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sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Toda criança merece um Natal de verdade


Mas o que é, de fato, um "Natal de verdade"? O título deste artigo nos remete a campanhas natalinas que buscam arrecadar brinquedos para crianças carentes. Apesar das boas intenções e das particularidades desses programas, essa frase nos diz muito sobre o que temos feito com uma comemoração de origem religiosa. Passamos a crer que um Natal só é de verdade, quando envolve o ganho de presentes.

Estamos vivendo a época do Advento! A aproximação do Natal carrega consigo inúmeros simbolismos, os quais cabem aos pais, transmitir a seus filhos de acordo com seu real significado ou baseando-se no pseudo-significado que o materialismo exacerbado fomenta ano após ano, sobrepondo a riqueza material à riqueza espiritual.

É uma pena que essa época tão mágica, repleta de imagens e inspirações, acabe sendo invadida por aspectos contrários a tais princípios. O momento introspectivo é devorado pelo consumismo e pela extroversão muitas vezes forçada. Não é à toa que algumas pessoas sentem-se “sugadas” durante e após esse período. Ao mesmo tempo que, subjetivamente, sentimos uma necessidade de recolhimento e reverência, a sociedade nos impulsiona a olhar para fora, e isso gera ansiedade.

Cidade maquiada, luzes piscando, pinheiros ornamentados, um papai noel em cada esquina, decorações glamourosas, ofertas “imbatíveis”... E raríssimas lembranças ao verdadeiro dono dessa festa: Jesus. Não fosse por Ele, nada disso existiria. Muitos dizem “Adoro o Natal porque traz um clima de harmonia”. Poucos se questionam de onde vem essa harmonia. Ou de quem...

Mas e as crianças, onde se situam nessa maré de informações contraditórias? As crianças merecem atenção mais do que especial. Elas estão tão próximas do mundo espiritual, que cabe aqui praticamente um pedido de joelhos aos pais, para que não as desviem desse profundo contato que possuem, inconscientemente, com tais vivências. O que para nós, adultos, pode ser visto como uma mera possibilidade, é para elas, a mais pura realidade. Por serem recém-chegadas ao mundo terreno, toda criança permanece e sente-se protegida pelos seres superiores. Udo de Haes, com sua linguagem extremamente delicada, compartilha desse conhecimento quando diz: “Para a criança pequena, que está muito mais próxima do que nós desse passado espiritual, essa convivência anterior com os anjos não é, em absoluto, uma hipótese ou simples imaginação. É exatamente o contrário disso... É sentido como a base real da própria existência”.

Por isso, neste momento, cabe a nós, pais e profissionais da saúde, apenas acompanhar a criança no seu caminhar inocente, porém transbordante de sabedoria. Max Heindel já dizia: “Se prestássemos atenção à tagarelice das crianças, muitas vezes poderíamos descobrir e recompor diversas histórias”. Os filhos chegam até nós, muitas vezes para que nós aprendamos com eles, e não o contrário. Devemos, claro, oferecer-lhes o melhor suporte físico e emocional possível, devemos ser a ponte que os conduz à vida adulta. Uma ponte capenga vai criar um filho inseguro e com medo de cair. Uma ponte firme concederá a sustentação adequada para que ele se sinta seguro e capaz de seguir adiante com suas próprias pernas.

Seria condizente, portanto, que durante o Advento, os pais conduzissem seus filhos pelas portas mágicas que o momento proporciona. Evitando dar ênfase à costumeira pergunta: “O que você vai ganhar do papai noel?” e talvez lendo para eles histórias bíblicas ou contos referentes à época  (quem sabe um conto sobre São Nicolau – que é a verdadeira origem do papai noel?), ou montando juntos o presépio, ou ainda simplesmente ao enfeitar o pinheiro de Natal, contar-lhes o porquê ser esta a árvore escolhida... Enfim, propiciar um ambiente que os mantenham em contato com a energia natalina de uma forma sutil, verdadeira e não invasiva. Que possa deixar cada criança onde ela está, que é junto de si mesma; ao invés de confrontá-la com o universo do consumo, tão nocivo e precoce para sua alma.

Encerrarei minhas palavras, não muito satisfeita, pois é um tema vasto que exigiria mais informações – mas deixaria o texto muito longo. Porém, feliz e esperançosa de que uma semente tenha sido plantada no coração de cada um de vocês.

“Se a alma vai passar pela vida rica em forças ocultas ou em pobreza interior, depende em grande parte do fato de lhe terem sido oferecidos, na idade infantil, na fase de criança pequena, tanto a possibilidade quanto o sossego para encontrar nas imagens da Terra que dela se aproximam, a expressão da riqueza espiritual que trouxe consigo e, desse modo, assimilá-las”. Udo de Haes


sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Brinquedo – amigo ou inimigo da criança?

Lembro de ouvir minha avó dizer que “naquela época” os brinquedos não eram como atualmente... Não havia botões de liga e desliga, era a própria criança que conduzia seu brinquedo (além de muitas vezes construí-lo) e com ele, realizava movimentos em todas as direções. Não havia luzes piscando sem parar, pois eram seus olhos que brilhavam ao criar e recriar novas formas. Também não emitiam sons, pois era sua própria voz, a responsável por cantarolar melodias ou imitar o que ouvia a mãe ou o pai dizer no dia a dia. Lojas de brinquedos? No quintal da própria casa! Onde junto com seus irmãos ela juntava pedaços de madeira, folhas, galhos e diversos outros materiais para concretizar o carrinho de bonecas que ela idealizou. Um carrinho que mesmo ficando meio torto, dava asas à sua imaginação... Além de ter um valor emocional incomparável.

No cenário atual, vemos crianças alucinadas pelos brinquedos que a televisão, impiedosamente, lança aos seus olhares. Indústrias visando atingir um consumidor infantil, que dependendo da idade, não sabe nem se vestir sozinho. Mas que desde pequeno, torna-se alvo de uma oferta desenfreada que pouco se importa com a qualidade moral do que oferece, pois seu único objetivo é o lucro. Infelizmente, o erro começa em permitir que esses pequenos, tão indefesos frente aos cruéis interesses de terceiros, sejam expostos a conteúdos midiáticos que além de nada terem de positivo, inibem o potencial criativo inato a toda criança, mas que atrofia, quando exposto a ideias prontas. 
(Mais informações a respeito dos malefícios da televisão: 

E os pais? Não há dúvidas de que buscam o melhor para seu filho. Mas o que é melhor, afinal? O que ele viu na televisão e esperneia para adquirir sem nem saber direito pra que serve, ou aquilo que a consciência paterna sabe que não precisa de propaganda para vender, pois toda criança adora; entretanto, dá mais trabalho para guardar e limpar após o uso? O carrinho que anda sozinho, apita, bate, volta, gira e acende vai entretê-la por uns 5 minutos, e nada vai acrescentar à sua alma nem ao seu corpo, sedentos por imaginação e movimento. Um papel com tinta e pincel ou um passeio ao ar livre, vai entretê-la por um longo período, além de preenchê-la com vivências e experiências carregadas de significado. Uma criança que desenha, imagina. Uma criança que aperta botões, faz o quê? Uma criança que ouve histórias, sonha. Uma criança que assiste à televisão, faz o quê? Uma criança que corre e pula, utiliza o estoque de energia que tem no corpo, além de confrontar-se com a força gravitacional e os elementos da natureza: ar, água, fogo e terra; contatos fundamentais para um ser que é recém-chegado a Terra, e que por isso, necessita dessas percepções mais do que em qualquer outra fase da vida. O conteúdo básico do brincar de toda criança durante o primeiro setênio, deve ser conhecer o meio ambiente onde vive. Desta forma, quando chegar à idade escolar (após os sete anos), estará pronta para pensar sobre tudo aquilo que vivenciou.

No primeiro quadrinho, o "bem-intencionado" executivo olha para a aldeia e pensa: "Que condições deploráveis! Estas crianças não tem nenhum computador! Preciso fazer algo!" Ao seu redor, crianças praticam, alegremente, atividades esportivas

Um ano depois. As crianças deixam de interagir entre si e reclamam: - Senhor, eu preciso de um upgrade! - Mais... um... jogo... - É só clicar, seu newbie! - Como eu vou assistir o Youtube com essa rede tão lenta? - Não me incomode, estou num chat! - Eu faço uma fortuna tirando minha camisa na webcam! As outras pessoas estão trancadas em suas "casas". E a bola de futebol, abandonada, cria teias de aranha. 

É preciso tomar muito cuidado com as aparências, pois de fato os objetos vendidos pela indústria dos brinquedos, são extremamente lindos e atraentes. Mas devemos sempre nos lembrar de um velho ditado que vale tanto para objetos inanimados, como para nós, seres vivos: “Por fora bela viola, por dentro pão bolorento”. Precisamos estar atentos à essência de tudo aquilo que apresentamos aos nossos filhos, pois as aparências, definitivamente, enganam. “As crianças são sufocadas com objetos que não representam alguma coisa, já são essa coisa”. Chilton Pearce

Um brinquedo, portanto, é amigo da criança quando for simples, sem muitos detalhes e pouco sofisticado. Desta forma, oferece à criança infinitas possibilidades de criação e interação, estimulando sua fantasia ao invés de atrofiá-la.  Caso contrário, essa força imaginativa, que anseia por desabrochar, fica represada no organismo infantil perturbando seu funcionamento, resultando em malcriações, mau humor e enfermidades. Rudolf Steiner nomeava esse represamento das forças da fantasia na criança de “surra interior”, tão prejudicial é para ela tal fenômeno! É inclusive considerado mais nocivo do que a surra física, cujos malefícios já nos são muito bem conhecidos.

Caroline Von Heydebrand assinala que é melhor uma criança aprender a abotoar e desabotoar numa calça ou num avental do que num apetrecho “pedagógico” inventado para esse fim. Aquela atividade acontece na vida, e esta é abstrata. As crianças querem estar no meio da vida.

Infelizmente, a rotina corrida dos pais e sua falta de tempo, acabam permitindo que seus filhos vivam em um mundo virtual. Contudo, ao colocarmos uma criança no mundo real, devemos ter consciência de que ela precisa e merece viver uma vida de verdade, com um brincar de verdade. Afinal de contas, brincadeira é coisa séria. 

"Somente o homem que brinca é inteiramente homem." Friedrich Schiller

quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Bebês Desvinculados: Adultos Alienados

O tempo passa, as crianças crescem, tornam-se adolescentes e finalmente adultos. Aprendem em uma velocidade absurda, pois depois do amor, o que eles mais buscam é aprendizado. Infelizmente, por nem sempre encontrarem esse amor, acabam sabendo muito, e consequentemente “sendo” e sentindo pouco. Sabem tudo dos últimos lançamentos tecnológicos, são informados a cerca de diversos assuntos que se passam ao redor do mundo: política, manchetes de todos os jornais, vida do vizinho, mas sequer percebem quão desinformados são sobre suas próprias vidas, sobre seu próprio ser, sobre seus sentimentos. Essa alienação é frequentemente, originada no início de tudo, lá na barriga da mãe... É decorrente de um período gestacional carente de vínculo entre gestante e bebê, e acaba consolidando-se com um nascimento proveniente de tal relação.

Sabe-se que o estado emocional da mãe interfere intensamente nos hormônios compartilhados com o bebê. Além da proteção e do cuidado, uma mãe é o maior modelo que um filho tem. Independente dos futuros vínculos e identificações, a convivência simbiótica entre gestante e bebê é determinante e será responsável por todas as relações vindouras. Não adianta fugir. A culpa, ou a responsabilidade, se o termo soar menos ofensivo, é da mãe e ponto final.
Minutos antes do parto, o corpo do bebê libera hormônios supra-renais que o deixam em estado de alerta, a fim de o mobilizar para o desafio que logo enfrentará. Esses mesmos hormônios caminham pelo cordão umbilical, colocando também o corpo da mãe em alerta. E finalmente eles provocam um pico de crescimento cerebral, proporcionando novos campos neurais para a aprendizagem mútua que esperam mãe e bebê. É um processo único que interfere em duas vidas, são dois lutando por uma única causa. Por esse e outros motivos, o final do parto exige a vinculação de ambos, mãe e filho, imediatamente após a saída do bebê do útero. Quando duas pessoas estão torcendo por um mesmo objetivo, o que ocorre quando atingem a vitória? Elas se abraçam calorosamente o tempo que for necessário. Da mesma forma, uma mãe que acabou de dar à luz e um filho que acabou de nascer, tem extrema necessidade desse vitorioso contato. Principalmente por já estarem vivendo juntos há nove meses.

 A simples posição de aninhar o recém-nascido sobre o seio esquerdo é capaz de desencadear uma série de funções que ajudam a cessar a produção dos hormônios de stress necessários para o parto, e deixam o bebê tranquilo para adaptar-se ao novo ambiente. Segundo Chilton Pearce, se esses estímulos não forem fornecidos, os sentidos do bebê permanecem adormecidos e os sentidos já estabelecidos não se confirmam em seu novo contexto. O nascimento propriamente dito fica incompleto e, por isso, a produção dos hormônios supra-renais continua. A proximidade da batida do coração da mãe é a principal prioridade na criação do vínculo e no cessamento da produção dos hormônios de stress. Desta forma, não ocorre nenhuma grande “ansiedade da separação” ou “abandono psicológico”, fatores que tanto perturbam o desenvolvimento.

Ao ouvir o coração da mãe, o coração do bebê recebe este estímulo, ativando um diálogo entre mente e coração. Desta forma, o bebê sente-se acolhido e certifica-se que o parto terminou bem. Além do coração materno enviar informações para seu bebê, o inverso também ocorre. Esse diálogo também ativa inteligências correspondentes na mãe, despertando intuições latentes e ancestrais referentes à proteção e à alimentação.  Sendo assim, esse singelo contato é capaz de fazê-la dar-se conta de tudo o que precisa fazer, já que possibilita uma comunicação intuitiva entre mãe e filho. A mãe se depara com conhecimentos que não podem ser ensinados e nem aprendidos. Uma sabedoria espontânea surge quando a mãe se permite entrar em ressonância com esse novo ser, o qual carrega, a nível intuitivo, o manual de instruções que maternidades e instituições vendem através de cursos que não servem para nada, além de provocar ainda mais ansiedade e insegurança nas gestantes. Tais cursos tentam teorizar um conteúdo que será vivenciado somente durante o parto. Eles antecipam racionalmente uma sabedoria que a natureza se encarrega de entregar de mãos beijadas para toda mãe que recebe seu filho com amor.

Esse amor, quando genuíno, é tão abundante que acaba deixando pouca energia para outras funções. Uma mãe fica tão absorvida no cuidado de seu filho, que é natural o distanciamento das demais atividades. A licença maternidade é uma prova razoável dessa necessidade; razoável pois o tempo de afastamento é mínimo se comparado ao realmente necessário. É inclusive saudável haver um espaçamento entre o nascimento de outros filhos, a fim de que os três primeiros anos de vida de cada um sejam favorecidos, já que são fundamentais para o amadurecimento emocional e biológico não só do filho, como também da própria mãe. É comum, porém lamentável, ouvirmos dizer que após o primeiro filho, os outros são mais “fáceis”. Isso só mostra a mísera importância que é dada à vinculação entre mãe e filho. O segundo, terceiro ou quarto filho precisam exatamente do mesmo cuidado e dedicação do que o primeiro. Uma mãe não é a mesma mãe para diferentes filhos. A cada filho que nasce, nasce também uma nova mãe. A experiência que o primeiro filho trouxe pode ser útil, mas jamais suficiente para lidar com o próximo. O erro está em acreditar que já se sabe... Pois é justamente o fato de não saber, que proporciona a dedicação necessária.

Mais uma demonstração de que o contato mãe e filho é crítico e decisivo, é o fato do próprio cordão umbilical ter sido naturalmente projetado com um comprimento que varia entre 45 e 50 centímetros; assim o recém-nascido pode ser colocado no seio esquerdo da mãe, sendo inclusive amamentado, enquanto ainda permanece conectado à placenta que continua funcionando neste período de adaptação do bebê ao novo ambiente. Trinta por cento de seu sangue permanece na placenta, fornecendo o oxigênio necessário e dando tempo suficiente para que o líquido amniótico escorra de suas narinas e traquéia, permitindo enfim que o recém-nascido descubra calmamente seu novo meio respiratório. Chilton Pearce é categórico quanto aos infelizes procedimentos que têm sido exaustivamente utilizados nas maternidades de hoje em dia:

Nossos “médicos”, porém, vêm cortando rotineiramente o cordão umbilical assim que o bebê está fora do útero, colocando-o imediatamente em situação de privação de oxigênio, um dos maiores temores de todos os mamíferos. Com dificuldade, o recém-nascido tenta respirar antes que as vias nasais estejam desobstruídas e acaba engasgando com o muco e o líquido amniótico; prontamente o puxam pelos calcanhares e dão-lhe uma palmada nas costas para que possa expelir um suposto tampão de muco e respirar pela primeira vez... O desastre realmente mais importante da História é a separação entre mãe e bebê no parto. Essa experiência de abandono é o fato mais devastador que pode haver na vida, deixando-os lesados emocional e psicologicamente.

A amamentação é outro requisito básico e que continua deficiente em grande parte dos casos. Pesquisas mostram que bebês amamentados com leite materno são mais inteligentes do que os alimentados com mamadeira. Como este dado é alarmante e 97% da população norte-americana é alimentada com mamadeira, é claro que surgem diversas oposições. As controvérsias partem de mães alegando que não amamentaram, mas seus filhos são sim inteligentes.  É importante lembrar que o excesso de racionalismo é muitas vezes visto como "inteligência", porém comumente é uma válvula de escape para aqueles indivíduos que apresentam desenvolvimento emocional e afetivo fragilizado. Devido ao sentimento de abandono e desvalorização, os mesmos tendem a buscar uma compensação em outras esferas a fim de não entrarem em contato com sua carência afetiva. Ser inteligente não é somente passar em primeiro lugar no vestibular. Gardner fala das diversas inteligências que cada ser humano pode apresentar; sendo uma delas a inteligência emocional. O inteligente emocional é extremamente criativo, possui imensa habilidade em lidar com situações desconhecidas, além de ser mais humano e solidário. É capaz de expandir-se profissionalmente em diversas áreas, tendo inclusive maiores chances de se sentir pleno e realizado. E para ser assim, basta ter sido amado.


Chilton Pearce assinala que bebês colocados em outras posições que não a do seio para tomar mamadeiras ou mantidos muito tempo em berços ou carrinhos, correm o risco biológico de ter um desenvolvimento físico e emocional atrofiado. Enquanto na situação inversa, ou seja, havendo contato e amamentação materna, independente do que aconteça depois com a criança, a segurança que recebeu através desse vínculo, lhe permitirá enfrentar os problemas e ela se tornará alguém que se sente à vontade num mundo de constante movimento e mudança. Serão indivíduos integrais, que sabem lidar com adversidades e que por terem sido preenchidos com carinho, cuidado, proteção e dedicação, não precisam buscar compensações externas. Buscam sim serem cada vez melhores, para que possam preencher o outro com suas riquezas internas e não para serem preenchidos por riquezas triviais.  Como já dizia a sábia Clarice Lispector: “Não procure alguém que te complete. Complete a si mesmo, e procure alguém que te transborde.”

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Falta de personalidade - um mal na moda

A sociedade em que vivemos está ficando cada vez mais perdida. O ser humano nasce, recebe uma educação na maioria das vezes questionável, se desenvolve (ou ao menos tenta), e começa de imediato a ser interrogado sobre "O que vai ser quando crescer", antes mesmo de saber o que ele de fato é no presente. A preocupação com a profissão ou o rótulo que carregará, antes de descobrir quem ele realmente é, o invade afastando qualquer possibilidade de entrar em contato com seu verdadeiro eu. É comum atribuir-se um peso muito maior ao que os outros vão pensar se o próprio filho não tiver um diploma, do que se ele não tiver personalidade. 

Em função disso, a criança cresce sob a expectativa do desejo dos pais, pois é raro um pai que permita a um filho ser o que ele é. Pais ansiosos e temerosos geralmente querem que o filho seja aquilo que eles esperam que seja, sempre escudados pela preocupação com seu futuro financeiro. E jamais admitindo a vergonha que possam vir a sentir por ter um filho fora do padrão – comumente aquele que dá vazão às suas inclinações artísticas e intrínsecas, optando por alimentar sua alma ao invés de vendê-la a qualquer preço. Cabe aos pais orientar, mas jamais compelir. Sendo este o caso, dá-se início ao falso crescer. Conclusão: crescem achando que sabem o que são, porque se identificam com aquele título que aprenderam a galgar. E assim caminham por toda a vida - falando de si a partir de uma das perguntas que mais respondem: "O que você faz?" E sequer dando espaço ou questionando-se a respeito de "Quem sou eu?" Muito tempo se passou desde que Sócrates afirmava: "Conhece-te a ti mesmo." Mas até hoje pouquíssimos podem compreender a profundidade dessa premissa básica.

"Fazer", todos fazem a mesma coisa dia após dia e continuam exercendo, inclusive, um padrão que diz respeito à infância - seguem imitando uns aos outros como se houvesse um cérebro coletivo que dita as regras. Entretanto, "ser" cada um é algo diferente. Ninguém é igual a ninguém. Mas esse atributo tão essencial e permanente da vida, é deixado de lado em prol do fugaz materialismo. As pessoas aprendem que concordar é o mesmo que "ser educado”, e não percebem que só se desenvolve aquele que discorda.  Por sua vez, os pais têm pérolas em suas mãos, mas atitudes preconceituosas e limitadas aniquilam qualquer possibilidade de criar um Ser humano, e acabam dando ao mundo mais um Ter humano.



A humanidade parece estar com preguiça de crescer e segue na ingênua esperança de que poder e reconhecimento sejam suficientes para que cada um seja dono de si mesmo. Mas é preciso adverti-la de que o verdadeiro e permanente crescimento só pode ser alcançado individualmente. Um indivíduo infeliz não consegue ser pleno sozinho e torna-se parasita de outro mais infeliz ainda. Passam a vida se apoiando em pseudo alegrias e acreditando que “Tudo o que é bom, dura pouco.” Sendo assim, raros vão em busca do auto conhecimento: o real caminho para a felicidade plena e duradoura. Segundo Roberto Crema, “o grande perigo atual, a grande ameaça global se chama normose (a patologia da normalidade). Precisamos de pessoas esquisitas!” Em uma sociedade doente, é preferível sermos anormais.

É claro que o olhar ou a aprovação do outro é fundamental na infância. Ao fazer algo diferente, a criança olha para a mãe com aquele ponto de interrogação impresso em sua face esperando aplausos ou querendo dizer: "Posso fazer isso?" É um ser em construção. Porém o ciclo do "fazer igual" é difícil de ser rompido, e apesar do cenário atual ser a prova viva do estrago, ninguém se atreve a sair da fila para ver o que de fato está à venda. É muito mais comum inibir um comportamento criativo a fim de não ter de lidar com resultados desconhecidos, do que permitir a inovação e colher os possíveis frutos da novidade. Estamos fartos de saber que a maioria das mães (ou pais) nem mesmo estão presentes em grande parte das vezes quando seus filhos precisam de um simples olhar aprovador ou até mesmo recriminador. Mas para que deixemos de precisar de uma referência, ela deve de antemão, ter sido exaustivamente utilizada. Caso contrário, uma constante inquietação vai permanecer ancorada durante a vida inteira. 

Serão os futuros dependentes emocionais: adultos que precisam da aprovação e do olhar do outro para se sentirem amados e seguros. O cuidado que falta na infância, perdura até que a própria pessoa saiba se cuidar e se acolher. Como poucos buscam conhecer-se para lidar saudavelmente com essa questão, mantém-se o comportamento infantil, buscando a atitude que a mãe ou o pai não tiveram, em terceiros. São incapazes de acreditar na própria percepção e recorrem frequentemente ao auxílio de outra pessoa porque a falta de auto confiança os impedem de buscar reconhecimento dentro de si. Passam a vida ansiando por estarem cheio de amigos ou buscando a outra metade da laranja, mas não se dão conta de que estão atrás da satisfação de uma necessidade que só pode ser atendida internamente. A consequência disso é o teatro que vemos hoje. Pessoas extremamente carentes postando fotos e mensagens de todos os tipos pela internet, implorando: "Olhem para mim pelo amor de Deus", "Eu estou aqui", "Eu existo"! Ou encarando do ponto de vista macro, podemos notar o reflexo disso na mídia com suas incansáveis propagandas suplicando para que seus produtos sejam vistos e vendidos. Interessante que embora esteja claro que o que é bom de verdade, não precisa de propaganda... As pessoas continuam indo atrás do que todo mundo compra.

Muitas vezes é preferível ser visto e ouvido por apenas um consumidor ou até mesmo um leitor que seja suficientemente esclarecido, e que fará bom uso do seu “produto”. A ter milhões deles que não compreendem ou estão tão contaminados por seus preconceitos, que só lhes restará criticar o que consumiram a fim de que possam, inutilmente, voltar à sua zona de conforto. 

Já dizia Schopenhauer: "O que falta em qualidade às pessoas do seu convívio tem de ser suprido, em certa medida, pela quantidade. O convívio com um único homem inteligente é suficientemente recompensador, mas, se o que se encontra são apenas tipos ordinários, então faz bem ter uma profusão deles, para que a variedade e a atuação em conjunto produzam algum efeito... E que o céu lhe conceda paciência!"

As crianças precisam ser vistas e ouvidas no momento certo, para que sejam adultos portadores da verdade e não para que busquem a verdade no outro. Uma criança que recebe limites claros e ao mesmo tempo, tem a oportunidade de agir com independência, será sem dúvida um adulto firme e de personalidade indissolúvel. O mundo carece de pessoas assim. E por isso segue nesse ritmo alucinado em sua eterna busca por dinheiro, fama, reconhecimento e poder. São meras máscaras para não entrar em contato com sua essência. Dinheiro é necessário, mas jamais será suficiente. Fama, reconhecimento e poder então, são mediocridades da pior espécie. Não servem para absolutamente nada. Todo aquele que quer aparecer por aparecer é escravo do outro. O homem livre é dono de si mesmo e faz o que faz simplesmente porque se sente bem. Isto não significa que cada um deva sair por aí fazendo o que bem entender ou o que mal entender, como acontece. O ser que descobre a Luz que possui, jamais utilizará seu potencial para o mal do próximo. Ele sabe adequar a sua liberdade para libertar igualmente, todo aquele que se aproxima de si. Ele passa a ser um servidor e não um mero consumidor.  

Rohden, brilhante filósofo e escritor brasileiro, lutou a vida toda pela libertação do homem. Seus preceitos indicam que “não ser moderno exige grande firmeza de caráter e independência de espírito. Para não ser moderno é necessário ser herói. Para ser alguém é preciso ter a coragem de renunciar a algo - e muitas vezes esse algo é quase tudo o que a sociedade preza. Para preservar a sociedade da corrupção, é necessário, não raro, parecer antissocial, não ser um passivo refletor da opinião pública, mas sim um ativo diretor dela”.

Por conseguinte, pessoas assim só aparecem quando a criança interna e ferida de cada um é curada. Infelizmente, parece mais fácil olhar para o espelho e retocar o que podem ver. Não se dão conta de que seu avesso, apesar de não ser diretamente visível, é o único e grande responsável pela vida que expressam. Preferem gastar toda sua energia nas boas aparências... Investem no fugaz e nas efemeridades que residem em tudo que é material. "Por fora bela viola, por dentro pão bolorento". A situação é realmente preocupante.

Quando Krishnamurti trouxe ao mundo uma forma de pensar completamente nova e que, portanto, exigia transformação interior, muitos o criticaram enquanto ele afirmava com veemência: "Falar a pessoas que já deixaram de pensar é muito cansativo. Estão todos um pouco nervosos comigo, visto que sou como um pedaço de espelho que os reflete - sobretudo a eles, o que não lhes agrada."

Ninguém disse que mudar é fácil. Mas é imperativo para quem busca viver uma vida de verdade.

"A vida só é real quando Eu Sou". Gurdjieff

terça-feira, 22 de julho de 2014

Parto Normal x Cesárea: opostos que não se atraem





A natureza é sábia. E como os animais estão mais próximos a ela do que nós, humanos, podemos considerá-los em muitos aspectos, mais sábios do que a humanidade em geral.
Grande parte dos mamíferos fêmea, quando está prestes a dar à luz, procura um lugar seguro e isolado, preferencialmente escuro e onde reine a mais sublime tranquilidade. Qualquer sinal de perigo (seja a aproximação de algum animal ou a simples queda de uma folha), inibe a respiração da mãe até que ela se sinta novamente segura.

Se compararmos este cenário com o ambiente hospitalar, torna-se nítida a assustadora diferença entre ambos. Só o fato de se estar em um hospital, já provoca uma drástica diminuição no processo de respiração – fundamental para um trabalho de parto tranquilo. Quando a gestante se sente acolhida e em contato com ela mesma e a natureza, ela pode dar à luz em até vinte minutos. Porém, no caso de qualquer interferência, não importando o tipo nem o motivo da intervenção, sua respiração sofre diminuição ou pode até ser interrompida, prolongando o trabalho de parto por horas. Isso ocorre por essa alteração respiratória ser razão suficiente para a mãe perder a coordenação muscular necessária para lidar com as contrações uterinas. A sabedoria tão natural que a natureza proporciona é negligenciada em prol de questões culturais e do excesso de informações médicas, que por tantas vezes, mais atrapalham do que ajudam.

É claro que não há o que discutir em casos onde há uma real necessidade cirúrgica. Entretanto é alarmante o número de cesarianas agendadas em casos de gestações que dispensam esse tipo de procedimento. O Brasil está entre os recordistas mundiais de cesárea. Em 2013, registrou-se uma taxa de 84% de cesáreas em hospitais particulares, enquanto o recomendável pela OMS é 15%. Isso é extremamente preocupante. E embora não possamos negar a importância das intervenções médicas quando necessário, “quando necessário” tem se transformado em “quase sempre”. Esse é um ponto delicado, pois se refere a uma transformação que tem origem em questões de interesses econômicos, além de pessoais, e torna-se extremamente complexo abordar esse assunto em âmbito público. Infelizmente a sociedade está constituída de tal forma, que aquele que ergue a bandeira da verdade é tido como transgressor ou excomungado, simplesmente porque a verdade dói e irrita. Em um mundo onde a esmagadora maioria prefere caminhar seguindo pegadas desgastadas que culminam em lugar algum, ao invés de criar seu próprio caminho e buscar o tesouro que pouquíssimos são capazes de encontrar... Não se poderia esperar resultado diferente. Aquele que “enxerga” é temido pelo sistema, pois a sua visão pode mudar uma “ordem” que apesar de caótica, mantém o povo sob as rédeas da aceitação. No fundo, os que pregam essa ordem sabem que aquele que foge do padrão não é escravo da falsa organização que o homem vive e sabem que os grandes revolucionários foram os que fizeram diferente e disseram não, enquanto todo o resto dizia sim. Assim fizeram os extremistas, os líderes, os santos e todos os que desvendaram a Verdade e tentaram mostrá-la ao mundo. Afinal de contas, “Onde a ignorância é uma bênção, é loucura ser sábio.”

Chilton Pearce passou a recusar convites para discursar em determinadas conferências e workshops, devido ao episódio que relata a seguir:

 “Um pouco antes de eu estar agendado para falar em uma conferência sobre vínculo no nascimento, eu recebi um longo formulário do Colégio Americano dos Obstetras declarando que eu teria que evitar, negando através da minha assinatura, qualquer conflito ou interesse que eu como um apresentador na conferência pudesse ter com as práticas do Colégio de Obstetras. Neste formulário eu fui alertado que a minha não obediência resultaria em várias medidas tomadas pelo Colégio, incluindo a de informar ao público presente sobre o meu não cumprimento - o que supostamente iria minar a minha credibilidade. O Colégio Americano de Obstetras, consistindo de aproximadamente quarenta mil obstetras, tinha acabado de instalar uma resolução de que qualquer mulher que desejasse ter um parto cesariano poderia tê-lo sem uma justificativa médica. Interessante é que ambos, os hospitais e obstetras, ganham muito mais dinheiro com cesáreas do que com o parto comum via vaginal, e depois dos cirurgiões cardíacos, os obstetras são os médicos mais bem pagos, com uma contabilidade de nascimentos maior do que a receita de todo o hospital. Além do mais, é fato que a grande maioria dos hospitais pertence a grandes cadeias corporativas e a Associação Médica Americana é um potencial político que deve ser levado em consideração. Não preciso dizer que desprezei o formulário, e desde então me recuso a falar sobre a larga escala dos danos cometidos nas maternidades”.

O parto normal tem perdido espaço para cirurgias onde o personagem principal deixa de ser o bebê ou a mãe, e passa a ser o médico. Tiraram das mãos da mãe a arte de dar à luz, e deram ao médico o poder de permitir que um bebê nasça somente através da sua presença. Dias depois, essa mesma mulher que carrega dentro de si o maior dom do mundo, que é ser mãe, não sabe o que fazer com o ser que acabou de gerar e contrata novamente um terceiro para lhe “ditar” regras e fazer o que ela nasceu sabendo, mas foi impossibilitada de acreditar por ter sido ensinada a depender do outro e jamais de si mesma. Pessoas assim, vão sempre buscar a luz fora de si, e dificilmente se darão conta de que a luz está dentro delas mesmas.

Isso propicia um círculo vicioso, pois uma mãe dependente cria filhos dependentes. Um bebê que nasce de parto normal trabalha tanto quanto a mãe, obviamente que em diferentes graus, mas há uma ajuda mútua intrínseca e insubstituível. Mãe e filho entram em ressonância com a natureza e a força da vida incentiva ambos a exercitarem-se a fim de que o nascimento ocorra. Bebês que nascem de cesárea são privados desse movimento natural, e a força que supostamente deveria vir de dentro, vem de fora.  O esforço é em vão, ou na maioria das vezes nulo. Posteriormente serão adultos passivos, que tem dificuldade de ir à luta, pois sua primeira impressão foi a de que lutaram em seu lugar. A passagem pelo canal vaginal é também responsável por uma série de estímulos corporais dos quais o bebê necessita para vir ao mundo de maneira saudável, sua saída é preparada e feita aos poucos. Na cesárea o bebê é subitamente arrancado da barriga da mãe. Já imaginou o susto?

Mais uma vez os animais estão aí para nos ensinar. Ashley Montagu, em seu brilhante livro “Tocar – O significado humano da pele”, fez uma extensa análise sobre a importância do toque nos animais racionais e irracionais. Todos sabem que um filhote recém-nascido deve ser lambido para sobreviver, pois caso isso não ocorra ele provavelmente morrerá. Porém, a mãe mamífera não o lambe a fim de simplesmente limpá-lo, como muitos pensam. A verdadeira função das lambidas é muito mais profunda, pois se refere à estimulação cutânea essencial ao desenvolvimento orgânico e comportamental de sua cria. Pesquisas realizadas com ratos mostraram o quanto essas carícias foram decisivas no desenvolvimento de seu comportamento. Estas resultaram em animais suaves e tranquilos, enquanto a ausência ocasionou animais temerosos e agitados.

Cesárea – 9 razões para desmarcar

Para completar, após um parto hospitalar, seja ele normal ou cesárea, o bebê é encaminhado a inúmeros procedimentos que o impedem do contato com quem ele esteve grudado por nove meses. O parto humanizado de verdade (não aquele que é vendido pela indústria das maternidades), tem feito suas contribuições neste quesito. Porém, o que as mulheres precisam saber é que não se deve esperar essa conduta da equipe médica, isso deve ser exigido pela única e verdadeira interessada: a mãe. A importância do seu toque, da troca de olhares, de deixar o bebê ouvir o som do coração materno (esse gesto é capaz de relaxá-lo, pois lhe soa como uma música profundamente conhecida) e de colocá-lo em contato com o seio a fim de amamentá-lo é tamanha, que qualquer ser humano realmente humano, deveria se preocupar em colocar esse tipo de informação em outdoors ou jornais, e não o lixo consumista com o qual nos deparamos diariamente. É o primeiro suspiro, são as primeiras impressões... Qualquer tentativa de mudança no que vemos hoje, pode começar aí. Não adianta tentar reeducar um povo que não teve seus cuidados básicos atendidos.


Está mais do que na hora das pessoas começarem a desconfiar do que a maioria faz. Pensar ao invés de ser pensado faz toda a diferença. O provérbio “A voz do povo é a voz de Deus” multiplicou-se indevidamente, pois foi recortado de uma carta de Alcuin para Carlos Magno em 798, cujo contexto carrega exatamente o significado oposto:

“Nec audiendi qui solent dicere, Vox populi, vox Dei, quum tumultuositas vulgi semper insaniae proxima sit” - E essas pessoas não devem ser ouvidas por quem continua dizendo que a voz do povo é a voz de Deus, desde que a devassidão da multidão sempre está muito próxima da loucura.

quarta-feira, 2 de julho de 2014

Da gestação aos três primeiros anos de vida: um marco decisivo na história de cada um



Para que seja possível compreender quão fundamental é o período gestacional, bem como os primeiros anos após o nascimento, faz-se necessário conhecer um pouco sobre o desenvolvimento do nosso cérebro quádruplo. São eles: Cérebro Reptiliano ou Sistema Sensório-Motor, Cérebro Emocional ou Sistema Límbico, Cérebro Racional ou Neocórtex e o nosso cérebro “mais recente”: Córtex Pré-Frontal.

A natureza constrói cada novo cérebro na tentativa de corrigir possíveis erros dos antigos sistemas ou a fim de ampliar a capacidade dos mesmos. Segundo Chilton Pearce, autor americano de diversos livros sobre Educação, a impressionante diferença que existe entre as estruturas neurais do nosso cérebro, faz com que essa herança seja ao mesmo tempo uma bênção e uma maldição. Quando integrados, esses sistemas nos oferecem um potencial ilimitado, uma habilidade de ascensão e capacidade para irmos além de todas as restrições ou limites. Ação, sentimento e pensamento integrados. Mas quando essa integração falha, a nossa mente é como uma casa dividida em partes que se colocam contra elas mesmas, o nosso comportamento, uma guerra civil paradoxal e nos tornamos nosso pior inimigo.

Na ordem de desenvolvimento, temos: o Cérebro Reptiliano, que promove apenas reflexos simples e se encarrega da sobrevivência e da aprendizagem física de algumas habilidades. O Cérebro Emocional, que exerce o controle dos nossos comportamentos. E é onde se encontra a base para todas as nossas formas de relacionamento. A terceira estrutura diz respeito ao Cérebro Racional, o qual processa a linguagem e o pensamento, e nos traz possibilidades completamente diferenciadas dos demais animais. E por fim, nossa última e mais recente conquista: o Cérebro Pré-Frontal. O neurocientista Paul MacLean considerava os pré-frontais o quarto sistema evolucionário, e os chamava de “lobos angélicos”, atribuindo a eles nossas grandes virtudes humanas de amor, compaixão, empatia e compreensão, assim como as nossas avançadas habilidades intelectuais.

É interessante observar que cada um dos nossos cérebros começa a se desenvolver no útero na mesma ordem hierárquica de seu aparecimento na natureza. No primeiro trimestre da gestação surge o cérebro reptiliano, no segundo trimestre o cérebro emocional e no terceiro e último trimestre, o cérebro racional passa a se desenvolver. A mais nova adição da natureza, o cérebro pré-frontal, dá seus primeiros sinais somente após o nascimento, mais precisamente, durante o primeiro ano de vida.

Um ser bem gestado e bem cuidado, principalmente até seus três primeiros anos de vida, tem privilégios extremamente significativos em relação àqueles que não receberam tais benefícios. Isso acontece pelo simples fato de que nossas futuras atitudes vão depender muito das experiências vivenciadas nesse período. Estes anos são um marco no nosso tempo de vida, pois é quando o nosso sistema emocional desenvolve as raízes para acolher nosso intelecto superior ainda por vir. Ainda por vir!  É importante frisar essa informação, pois poucos sabem que nossas emoções nos governam muito antes de aprendermos a nomeá-las. O cérebro emocional nasce antes do racional, o que significa que primeiro sentimos, para somente depois compreendermos (ou não) esse sentimento e associá-lo a uma situação. Primeiro amamos ou nos sentimos rejeitados, para só posteriormente procurarmos entender o motivo. É por isso que, principalmente no caso da rejeição, é tão difícil dar-se conta de que houve uma indiferença por parte do cuidador. Geralmente o indivíduo em questão busca racionalizar ao máximo os porquês do seu sentimento de inferioridade ou inadequação. Ele nega a falta de amor que já foi sentida, sob os inúmeros véus do intelecto. Nascer e ser cuidado por uma mãe carinhosa é o maior mérito que alguém pode receber. Não se aprende a amar... O amor é que ensina.

“A intencionalidade precede a capacidade de fazer” Jerome Bruner

É curioso notar que o cérebro mais elaborado necessita do perfeito andamento daquele que o antecede, para que ele possa expressar todo o seu potencial. Ou seja, o cérebro racional só pode se desenvolver plenamente após o funcionamento total do cérebro emocional, o qual, por conseguinte, só apresentará harmoniosamente suas habilidades, depois que o cérebro reptiliano estiver em adequada atividade. Qualquer falha prematura no desenvolvimento do nosso cérebro emocional, por exemplo, prejudicará tenazmente o funcionamento do cérebro racional.

O papel da mãe

Pode-se afirmar, portanto, que o cérebro emocional da criança não está pronto para atuar até que seu cérebro reptiliano esteja em total andamento. Por isso, a mãe é precisamente programada para agir como o cérebro emocional de seu filho. Ela (ou seu substituto), servirá de modelo para que um relacionamento adequado seja estabelecido, suprindo as necessidades básicas que o bebê apresenta em seu primeiro ano de vida, tais como alimentação, proteção entre outras. Quando as funções do cérebro reptiliano estiverem em plena ordem, a criança buscará na mãe o modelo do qual necessita para agir emocionalmente. E da mesma forma, quando o cérebro emocional do bebê estiver em plena operação, a mãe fará o papel do cérebro racional substituto e servirá de modelo para o desenvolvimento de seu intelecto. Maria Montessori já dizia que uma humanidade abandonada no seu primeiro estágio de formação, torna-se a sua própria grande ameaça para sobreviver.

Um dado digno de nota diz respeito aos autistas. Sessenta a setenta por cento dos autistas apresentam deficiência do lado esquerdo do cérebro (cérebro racional). O que ocorre, bem provavelmente, devido a um vínculo empobrecido entre o bebê e sua mãe durante a fase de desenvolvimento do cérebro emocional, tanto no útero, quanto fora dele. Estudos recentes mostram que filhos indesejados têm maior chance de nascer esquizofrênicos ou autistas.

O olhar da mãe cura

Entretanto, partindo do princípio que o modelo foi satisfatório e bem sucedido, a criança torna-se capaz de agir com um grau de independência cada vez maior. Se a mãe proporciona todos esses atributos em um estado emocional positivo, o desenvolvimento é tranquilo e livre de traumas. É a conduta da mãe que vai determinar o estado emocional da criança bem como todo o seu processo evolutivo de uma maneira geral. Se aprendermos matemática sob a ameaça de uma bronca ou qualquer humilhação, o medo e a vergonha tornam-se parte desse aprendizado tanto quanto os números em si. Chilton Pearce assinala que ao exercitarmos o que foi aprendido, mesmo anos mais tarde, os mesmos hormônios emocionais irão desempenhar os seus papéis porque eles também são elementos do padrão neural, assim como o objeto da aprendizagem- e o nosso corpo, cérebro e coração reagirão de acordo.

Vale relembrar que nosso último cérebro a se desenvolver, é o Pré-Frontal. Ele não só é o último, como também o único que inicia sua formação apenas fora do útero. E é justamente este o responsável pela expressão das nossas características mais nobres, como amor e compaixão. Parece que a natureza quis dar uma segunda chance ao conceder a gloriosa missão de transmitir valores desse nível, novamente à mãe ou a um possível substituto. Muitos dizem que não é a gravidez que transforma uma mulher, mas sim dar à luz. O que sugere que uma mãe “ausente” na gravidez (acreditem, esse paradoxo existe!), pode vir a ser uma mãe mais presente após o parto. Ou ainda, pode ceder seu lugar a alguém que não prejudique ainda mais o cuidado que ela não foi capaz de ter. É então somente a partir do nascimento, e através das experiências que desfrutará junto a este modelo, que a criança irá construir suas habilidades no que diz respeito às mais elevadas virtudes. Contudo, se o ambiente desse ser em formação não oferecer as condições suficientes  para ativar os neurônios pré-frontais, os mesmos não se desenvolverão conforme designado. 

Durante o período de um a três anos de vida, áreas específicas do cérebro delineiam seu repertório de experiências negativas e por volta da idade de três anos esses depósitos se mielinizam e seu funcionamento se torna permanente. Por toda a vida os acontecimentos vividos  serão, inconscientemente, comparados com aqueles que foram armazenados. Daí a importância de preencher esses anos com experiências gratificantes. Caso contrário seu parâmetro será na maioria das vezes ruim, o que faz com que esse indivíduo acabe se identificando frequentemente com o lado negativo das situações.

Tudo o que o uma criança precisa é ser acolhida e amada. Porém, apesar de ser o mínimo, é cada vez mais escasso nos dias de hoje. A preocupação com o sexo da criança, para citar apenas um entre os vários exemplos, torna-se muitas vezes maior do que com outros aspectos muito mais relevantes para o bem estar da mãe e do bebê. Exames extremamente precoces, são além de invasivos, prejudiciais ao feto. Entretanto são “vendidos” para matar a curiosidade da mãe e para que esta possa ter tempo de percorrer longas distâncias a fim de comprar o enxoval do bebê. Mães que vão tão longe, mas se esquecem de que nunca mais estarão tão perto de oferecer o único bem que seus filhos realmente precisam: amor. Há algum tempo se fala da importância de conversar com seu filho desde que se tome conhecimento da sua existência. Mas ainda existem gestantes que passam nove meses ignorando o fato de que carregam um ser dotado de sentimentos e percepções. O maestro canadense Boris Brott aprendia trechos de algumas obras com extrema facilidade e se questionava a respeito. Ao comentar isso com sua mãe, que era violoncelista, ela lhe contou que aqueles eram justamente os trechos que ela tocava durante a gravidez e que deixou de executar após esse período.

Além das diversas condutas citadas ao longo do texto serem simples, são acessíveis ao mundo inteiro. Não depende de credo, raça, nível social nem intelectual. Basta conscientizar-se de que poucos anos de carinho e atenção podem ser suficientes para preservar uma nova vida de inúmeros prejuízos. 

"Os homens são o que as mães fazem deles." Ralph Emerson (1803-1882)

terça-feira, 27 de maio de 2014

A escola que você escolheu para o seu filho: Cria ou Atrofia?

Hoje em dia, a falta de imaginação e criatividade é um dos males que mais atingem os adolescentes. Na infância, esquece-se o fato de que é com os sentimentos que o ser humano se relaciona com o mundo, sendo somente mais tarde que seu raciocínio intervém.

Entretanto as crianças são bombardeadas de informações de conteúdo abstrato antes de estarem prontas para tal. Recebem estímulos precoces que produzem efeito nocivo ao seu desenvolvimento sadio. A sociedade moderna criou uma falsa crença de que quanto mais cedo a criança aprende, mais rápido se desenvolve. Porém, esquece-se de acrescentar a essa informação o fato de que apesar do cérebro humano estar em constante desenvolvimento, deve receber estímulos adequados à fase psicoevolutiva em que se encontra. É claro que uma criança vai aprender tudo o que for ensinado a ela, mas pouco se questiona sobre o fato de ela estar preparada para lidar emocionalmente com determinado conteúdo ou não.

É um grande equívoco  ensinar conceitos prontos e preceitos teóricos para crianças que estão apenas descobrindo o mundo. Elas não têm a chance de experimentar por elas mesmas. O esforço que seria por elas utilizado para chegar a alguma conclusão é nulo, ou seja, aquilo que ela aprenderia naturalmente, através de vivências concretas, é embutido em seu cérebro de maneira fixa e imposta. Os conceitos são necessários, porém devem surgir suavemente, com vivacidade e desde que sejam passíveis de transformação.  




Além da precocidade a nível conceitual, existem escolas que se vangloriam (e pais que ficam maravilhados!) ao informar que ensinam “Educação Moral e Cívica” para crianças no jardim da infância. Pais orgulhosos dizem “Ah, meu filho já aprende na escolinha que não pode jogar lixo no chão.” Mas será que já pararam para pensar “como” ele recebe essa informação? Não basta nos preocuparmos com “o que” nossos filhos aprendem, saber “como” e “quando” também é essencial. Uma criança que vê dia após dia os pais jogando lixo no local apropriado, realmente precisa ter uma aula sobre esse tipo de instrução na escola, sabe-se lá de que forma? Dependendo da maneira como tal regra é recebida, ocorre mero adestramento! E ao invés de agregar, pode vir a inibir um comportamento que seria extremamente natural. 

Segundo Rudolf Lanz, ex-presidente da Sociedade Antroposófica no Brasil, “em vez de receber conceitos, a criança deve aprender a tirar conclusões. Toda precocidade a esse respeito, ao contrário do que se poderia pensar, enfraquecerá a autonomia moral depois dos 21 anos de idade. O adulto será tanto mais independente e livre em seus julgamentos morais, quanto mais tarde tiver sido chamado a emiti-los.” O que se poderá esperar então, de jovens que foram ensinados a pensar conceitualmente quando mal haviam saído das fraldas?

É recente o caso de uma menina de 4 anos de idade que se queixava de dor nas mãos para sua mãe. Após ir ao médico, recebeu o diagnóstico de L.E.R. (Lesões por Esforços Repetitivos). Imediatamente a mãe comunicou a escola, que se dispôs a diminuir algumas atividades. Se não tivesse surgido um bode expiatório para refrear esses possíveis exercícios em série, ninguém sabe qual seria o tamanho do estrago.

Não há espaço! Desde criança, os pequenos já não tem tempo para brincar por que “precisam” fazer milhares de atividades: computação, judô, Inglês, natação, música, ballet, etc, etc, etc. Há uma pressa, uma euforia, uma necessidade de mostrar que a criança já sabe isso ou aquilo, que já aprendeu a contar antes mesmo de falar direito. Pra que isso? Não será essa a atitude de pais inseguros e que usam os “avanços” dos filhos para esconder suas próprias fragilidades?




Reinhard Kahl, renomado jornalista alemão, denomina as escolas de hoje “escolas da vergonha”. A divisão dos alunos de acordo com a capacidade intelectual, deixa os mais fracos incisivamente expostos deflagrando o que estes não podem realizar naquele momento e privilegiando outros apenas por seu desempenho lógico. Deixam de olhá-los por inteiro. Esquecem que a inteligência é importante, mas é apenas um entre os diversos atributos a serem desenvolvidos no ser humano.  Ignoram a criatividade, as habilidades sociais e as condutas emocionais, entre outras. Características estas de extrema importância e as únicas através das quais se torna possível construir algo mais humano e compassivo no mundo.

Por que ainda não ensinaram crianças a dirigir? Será esta a próxima oferta das “grandes” escolas? É imprescindível observar que a criança tem anos pela frente a seu favor, a natureza foi sábia o suficiente para oferecer possíveis progressos de acordo com a maturidade. O ditado “a pressa é inimiga da perfeição” carrega uma sabedoria inominável. Entretanto, ao transmitir conhecimentos de raciocínio lógico a crianças que mal falam direito, elas sentem-se obrigadas a assimilar, pois confiam em tudo aquilo que figuras de referência como pais e professores a oferecem. Todavia, áreas de seu cérebro que deveriam estar ocupadas em desenvolver seus aspectos físicos e emocionais, passam a se envolver em aprendizados que deveriam ser apresentados anos mais tarde, não fosse o imediatismo da vida moderna.  A antecipação de determinadas capacidades, gera um reflexo sobre as demais. Um precoce excesso de estímulos ligados ao intelecto leva a uma hipertrofia de capacidades racionais, criando-se um desequilíbrio, e inclusive uma possível atrofia de outras de caráter psicológico, por exemplo. A consequência disso são adolescentes capazes de enfrentar um vestibular, mas incapazes de lidar com suas próprias emoções. Adultos que aos 35 anos já atingiram o ápice da carreira, mas que no quesito relacionamentos, estão engatinhando. Tornam-se analfabetos emocionais.



As escolas acabam se perdendo nessa maré de informações pois passam a fornecer a educação de acordo com a busca dos pais. E inicia-se um círculo vicioso sem fim. Pais ansiosos, filhos sobrecarregados e escolas que oferecem a hiperestimulação como uma forma de ensino saudável. Para completar, ao chegarem em casa não encontram um ambiente de acolhimento onde possam simplesmente brincar. Pelo contrário, enfrentam a ausência dos pais e são arremessadas em mais atividades. Isso para não dizer quando são entregues a aparelhos televisivos ou eletrônicos em geral, os quais trazem a crença de que “relaxam”. A esse respeito, Heinz Buddemeier, especialista alemão na Ciência dos Meios de Comunicação, esclarece, “quem está cansado procura distanciar-se, assim que possível dos estímulos sensoriais do dia. Quando se vê televisão, acontece o contrário: a consciência amortecida é bombardeada com impressões óticas e acústicas ainda mais intensivas do que as do dia a dia. Com isso é provocado um estado de tensão interna, que subjetivamente é sentido como estado de atenção”. Ou seja, a grande maioria das crianças contemporâneas está constantemente em estado de alerta. São os adultos estressados de amanhã.



Crianças são simples, os adultos é que as complicam. Crianças são capazes de realizar o que adultos deixaram de ser. Elas criam e transformam objetos com a maior maestria, mas a escassez desses atributos em seus cuidadores, faz com que a criação ceda seu lugar ao comodismo. Lojas de brinquedos são abarrotadas de brinquedos prontos, pobres e inúteis. Porém a sociedade continua aplaudindo impiedosamente lançamentos infantis onde ao apertar um botão, a criança olha passivamente ao espetáculo que um pedaço de plástico qualquer reproduz. Isso as aprisiona e aniquila seus questionamentos. Não é à toa que a sabedoria inconsciente das crianças, as fazem abandonar esses brinquedos após alguns minutos de falso entretenimento. 

Também chama atenção como os adultos além de incentivarem os pequenos a se entreterem com eletrônicos, também ficam admirados com a habilidade que todos têm ao manuseá-los. É frequente a frase: "Nossa, é impressionante como ele mexe direitinho no celular!" Mas o que impressiona tanto, afinal? Talvez um macaco mexendo em um ipad habilmente, fosse motivo de real espanto! Mas para um ser humano que é capaz de aprender faculdades complexas como andar, falar e pensar? Definitivamente, nossa cultura tem subestimado as infinitas possibilidades que toda criança carrega dentro de si. É, pelo contrário, lastimável vê-la perder seu precioso tempo nesse tipo de diversão, e é de fato um grande desperdício.  Brincadeiras ao ar livre, onde a liberdade de criação é exercitada e o movimento corporal é bem vindo, lhes toma todo tempo do mundo e sua energia é gasta de maneira muito mais produtiva. Crianças que brincam de verdade e recebem a devida atenção, têm suas necessidades básicas, tais como sono e alimentação, em ordem plena e esse é um dos grandes indícios de que estão no caminho certo.

“Exigir uma competência extremamente precoce em informática tem a ver com um conflito condicionado pelo aspecto psicoevolutivo, pois a introdução ao computador, bem como sua utilização, podem levar à obstrução das capacidades linguísticas. O que é perdido na infância, nesse campo, não pode ser recuperado mais tarde. Em compensação, os conhecimentos de informática podem ser adquiridos em qualquer idade. Assim não existe absolutamente fundamento algum em fazer lidar com o computador precocemente”. Heinz Buddemeier 

Porém, apesar da situação parecer estar fugindo do nosso controle. A saída existe. Mas para que ela seja encontrada, faz-se necessário a conscientização dos educadores. Em uma sociedade onde as mães (e pais) continuem optando por deixar seus filhos à mercê de babás ou prossigam os matriculando em escolas que ao invés de olharem para aquele pequeno ser em construção, enxerguem um mini executivo de terno, gravata, e fraldas (!), o cenário não é suscetível a mudanças.

Apesar de ser minoria, existem escolas realmente preocupadas com o desenvolvimento sadio das crianças e capazes de preservar o lúdico em suas vidas ao invés de abarrotá-las de informações desnecessárias para sua faixa etária. Porém, convém ainda assim precaver-se. Como a oferta aumenta conforme a procura, é perigoso comprar gato por lebre e investir em escolas "construtivistas só de fachada". Falam bonito mas fazem tão feio quanto as demais. É importante avaliar principalmente a filosofia em que estão embasadas e assegurar-se de que a teoria é de fato colocada em prática.

Um exemplo seguro são as Escolas Waldorf, as quais orientam-se a partir da Ciência Antroposófica, fundada por Rudolf Steiner, e aplicam uma pedagogia voltada ao desenvolvimento integral da criança e do jovem. Caracterizam-se pelo incentivo à criatividade, nutrindo a imaginação e conduzindo os alunos a um pensar livre e autônomo.

Mais informações

A educação começa em casa, mas uma boa escola pode fechar esse ciclo com chave de ouro! Delegar a educação de um filho e anos mais tarde exigir dele algum tipo de comportamento é definitivamente incoerente. Restará aos professores ou aos psicólogos, imersos nesta mesma sociedade imediatista, remediar, futuramente, uma situação que foi criada pela ausência de atitude dos principais responsáveis. E ainda que assim seja, tudo o que é remediado perde sua essência natural. A natureza oferece gratuitamente uma ordem insubstituível, mas o ser humano não a valoriza, e se esquece de que cada um colhe exatamente aquilo que plantou.