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quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Mães que amam demais - O que está por trás da ajuda excessiva?

O ditado “Filho de peixe, peixinho é” tende a cair em desuso, na medida em que evoluímos e passamos a compreender o quanto é limitante expressarmos somente o que aprendemos através do discurso e da convivência familiar.  “Somente”, porque a vivência que temos em casa representa apenas a ponta do iceberg no que se refere às inúmeras possibilidades que a vida traz, e também porque dependendo do ambiente onde uma criança cresce, os estímulos podem ser extremamente pobres e escassos. E a ela restará duas alternativas: sentar em cima do que recebeu (ser o peixinho) ou utilizar a experiência como degrau e ir em busca de muito mais (ser o que realmente é).

Hoje em dia, as diversas técnicas psicoterápicas, bem como os inúmeros caminhos de desenvolvimento pessoal, têm ampliado as possibilidades de autoconhecimento. O que antes era visto como sinal de egocentrismo ou até mesmo de loucura, atualmente é encarado como uma opção extremamente saudável.

Entretanto, é preciso estar atento ao fato de que a partir do momento que optamos pela verdade, todo ambiente ao nosso redor passará pelas possíveis transformações decorrentes dessa escolha. Quando uma pessoa resolve ser diferente daquilo que vinha sendo durante um tempo, sua atitude surtirá efeito sobre todos os que estão a sua volta. E a tendência de tentarem “segurar” o indivíduo na posição que lhes era conhecida, é muito grande.



Aqui, como de costume, vamos nos ater às figuras parentais. Alguns pais apresentam um medo inconsciente frente ao desenvolvimento pessoal do filho por diversos motivos. Embora isso soe estranho, foi em 1915 que Freud observou em alguns de seus pacientes, um fenômeno que classificou como "o medo do sucesso". Apesar de mãe e pai, aparentemente, desejarem que seus filhos sejam melhores do que eles, nem sempre essa é uma verdade genuína. Segundo Jean-Yves Leloup, se um filho se torna mais rico ou mais feliz do que seus pais, ele lhes escapa, sai da família. E inconscientemente os pais seguram seus filhos no mesmo estado em que eles pararam.


Por isso, por melhores que sejam as ações dos pais ao oferecer para os filhos tudo o que podem - fator muito comum através do quesito financeiro - seu inconsciente poderá estar trabalhando contra o progresso do filho. Mães que por algum motivo foram omissas nos primeiros anos de vida da criança (incluindo a gestação), sentem uma necessidade extrema de, mais tarde, compensar tal falta de diversas maneiras a fim de não se distanciarem (mais!) do filho. Entretanto, apesar de existirem pessoas capazes de vender a alma pelo outro, há sempre uma espera velada de que este outro as recompensem por isso. 

Bebês exigem muito cuidado e nesta fase a mãe é pura entrega. É uma doação constante de carinho e atenção. Contudo, existem mães, que por lacunas da própria infância, não conseguem dar conta de cuidar sem serem cuidadas, e acabam deixando a mensagem subliminar de que deve haver uma troca, e não uma entrega. É comum, no entanto, que passados os primeiros e mais delicados anos, tal mãe passe a fazer cada vez mais pelo filho (superprotegendo-o a ponto de sufocá-lo), pois sua psique quer compensar o que não foi capaz de fazer antes. Entretanto, a falta sentida na primeira vinculação deixa marcas profundas e a carência já se instalou. Mães que se perdem na ilusão altruísta de tentarem salvar os filhos, estão muitas vezes, buscando salvar a si mesmas. 

É claro que os pais, em geral, buscam fazer o melhor que podem para seus filhos. Mas a maternidade (e a paternidade) evoca sentimentos inconscientes da própria vivência como filha (o) que podem ser conflitantes entre si. Por isso a importância do autoconhecimento principalmente por parte dos pais e se possível, antes de tornarem-se educadores! Homens e mulheres que reconhecem seus conflitos serão naturalmente menos reprimidos e mais autênticos não só em casa, mas em todas as suas relações.


Um dos grandes dilemas deste tipo de cuidado, refere-se ao fato do personagem incorporado ser paradoxal. Existe uma obrigação aprendida de ser o salvador da pátria. Há uma necessidade extrema de ser educado, gentil, prestativo e tolerante. É o famoso “bonzinho”... E por ser aparentemente assim, não enxerga seu lado controlador, perfeccionista, ansioso, autoritário, excessivamente otimista, dono da razão e emocionalmente inseguro. Porém os filhos percebem essa ambiguidade e isso os confunde, é praticamente uma chantagem emocional: "Eu faço tudo por vocês, mas exijo respeito e submissão." É um fazer condicional.


Muitas vezes esse tipo de relação advém de um distúrbio conhecido como co-dependência. A psicóloga Bel César adverte que, "uma atitude co-dependente pode parecer positiva, paciente e generosa, pois está baseada nas melhores das intenções, mas na realidade é exagerada, inadequada e intrusa."

No caso da mãe co-dependente, esta precisa sentir-se útil, aceita e amada a todo custo, e acaba repetindo os mesmos comportamentos ineficazes da sua própria infância na tentativa de não sentir a dor do abandono mais uma vez. Para isso cria, com os filhos, uma relação de dependência mútua. Ela precisa sentir que seus filhos dependem dela para sentir-se viva. E por isso, não cria os filhos para o mundo, os cria para temer o mundo, apesar de acreditar piamente que participa da primeira categoria. Inconscientemente, há uma vitimização: "Sou coitada, mas veja como sou forte e o que eu tenho de suportar por vocês", explica Zampieri, psicóloga estudiosa da co-dependência. A consequência são futuros adultos que vão buscar em seus relacionamentos esse mesmo cuidado compulsivo, que nada mais é do que um pedido de socorro: “Faço muito por você, mas espero que você também faça por mim”. 

Em um texto publicado na Folha de São Paulo, o autor faz uma interessante análise baseada na origem do termo co-dependência, como sendo uma derivação do termo co-alcoólatra. Segue link para maiores informações:


Identificar a existência de um afeto mal canalizado é o primeiro passo para que o mesmo possa voltar a fluir livremente pelo psiquismo. Entretanto, essa conscientização pode ser difícil. A tendência inicial é o indivíduo negar e resistir tanto às percepções da forma como atua, quanto às mudanças que elas podem promover. Contudo, é importante lembrar que a verdade nunca é mais dolorosa do que o que escondemos de nós mesmos.

Filho de peixe pode e deve ser muito mais do que um mero peixinho, uma mera repetição... Mas para isso, é preciso ter forças para trilhar por um caminho diferente daquele que, apesar de conhecido, limita infinitamente seu potencial.

5 comentários:

  1. Perplexa.Essa é a palavra. Voce descreveu a minha mãe Mari. Virou guru?????????kkkkkkk Vc sabia e nao me contou ne?
    Bjo querida. Aprendo muito contigo.
    Adriana

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  2. Me preocupa essa questão ser tao inconsciente. Vejo essa conduta em uma mãe que conheço e vejo como os filhos são subordinados. Uma família bem estruturada (de fachada) mas cheia de culpas e afetos mal canalizados, como vc bem disse, Maria Inez.. São soldadinhos moldados mas visivelmente carentes. Vou te enviar um texto no seu email, depois vc me diz o que achou. Ro

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  3. M. Inez durante anos fui incapaz de perceber por qual motivo meu filho e minha filha foram obter residencia em outras cidades. Não me apropriava com o fato de ter lhes oferecido tanto, e mesmo assim ambos terem dado as costas a mim. É muito dif´cil a uma mãe ver isso sem dor e culpa.Mas hoje..depois de 22 anos de idas e vindas em processos terapêuticos, percebi que eles não deram as costas a mim..... Eles disseram sim a eles mesmos, a sua propria independencia que eu impedia sem me aperceber. A terapia é iluminadora, voce esta certa. Leva anos, mas sou mais feliz depois de ter desvendado meus olhos. Desejo que voce possa ajudar com seu conhecimento e carinho, mais pessoas a se descobrirem.

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    1. Vc expressa um amor amadurecido, capaz de transformar suas relações. Parabéns pela coragem. E muito obrigada pelo depoimento!


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