Essa é uma pergunta comum que pais
de alunos Waldorf escutam quando convidam seus familiares para irem
à Festa da Lanterna na escola de seus filhos. E por ser uma celebração tão especial, merece
ser integralmente compreendida por quem se interessar...
A Festa da Lanterna é uma linda e
delicada comemoração de origem europeia, que hoje é tradicionalmente celebrada
em todos os jardins de infância das Escolas Waldorf, na época que antecede as festas de São João.
Seu simbolismo é
claramente expresso na história da menina da lanterna, que vale a pena ser
lida!
Seus personagens passam por diversas situações
que ilustram o caminho de autoconhecimento que cada um percorre em sua vida
através da busca pela luz interior. Uma nova consciência que provoca
transformações profundas e só pode ser realmente plena quando compartilhada
para o bem de todos.
A chegada do inverno traz uma
sensação de frio quando nos referimos ao meio ambiente, mas em contrapartida
também pode nos remeter a uma atmosfera de calor interno ao observarmos o
movimento introspectivo que essa estação nos propõe. É justamente nessa época
que a festa da lanterna acontece. Por isso, as crianças não precisam compreender racionalmente o significado da comemoração, lhes cabe apenas
sentir a quietude que a natureza traz e ao mesmo tempo vivenciar
inconscientemente e livre de conceitos, a magia desse momento através de
músicas, contos e atividades típicas. Quanto menor a criança, mais sutis
deverão ser os gestos de pais e professores, desadormecendo suavemente aquilo
que vive em estado latente na alma humana, e espera ser despertado.
Na história, cada passagem ilustra um momento no percurso do desenvolvimento pessoal, conforme será explanado a seguir.
A personagem principal
é uma menina que caminha segurando uma lanterna, e logo no início é surpreendida pelo
vento que apaga sua luz. Esse momento simboliza a necessidade do ser humano iniciar
um caminho de autoconhecimento a fim de reencontrar-se com sua luminosidade
interior.
À medida que segue seu caminho depara-se
com diversos animais, os quais representam nossos instintos básicos que
precisam ser dominados com o propósito de acordarmos para além do mundo
material que nos cerca.
Em seguida, as estrelas, canal
cósmico entre os homens e a sabedoria plena, a aconselham transmitindo coragem
para que a menina siga sua peregrinação.
Logo ela estará defronte aos três
princípios básicos que regem a nossa vida: o pensar, o querer e o sentir.
Respectivamente simbolizados pela velha que tece o fio do pensamento, o
sapateiro que com sua força de vontade e ação nos mantém com os pés no chão e a
criança da bola que vivencia o mundo através da liberdade de seus sentimentos.
Embora a menina solicite a ajuda de ambos, estes também lhe negam auxílio.
Ela decide então continuar sozinha, mas por estar muito cansada acaba adormecendo. Os vários "nãos" que recebe ao trilhar seu caminho representam uma escolha solitária que exige coragem e persistência. Quando então desperta, percebe que sua
lanterna está acesa e fica muito feliz. Tal postura reflete o movimento de
entrega a um plano maior, pois somente através da fé podemos nos reencontrar
com nosso potencial interior.
A menina inicia alegremente seu
retorno. Quando caminha de volta, vai revendo cada um daqueles com
quem se deparou na ida e devido à transformação e ao crescimento, provenientes
da sua iluminação, oferece auxílio a cada um deles; o que denota que todo
processo de desenvolvimento só é válido quando compartilhado com os demais. Sua
doação ao iluminar o caminho, inclusive dos animais, mostra que reconhece seus
instintos e é capaz de dominar seu mundo interior.
No dia da festa na Escola Waldorf de
São Paulo, os alunos do Ensino Médio apresentam a peça da “Menina da Lanterna”
para as crianças da Educação Infantil, pais e demais convidados. Logo em seguida os pequenos
buscam suas lanternas, confeccionadas carinhosamente por eles e seus pais, e fazem um passeio
pela escola cantando lindas canções da época. Quando as crianças aparecem é difícil perceber se o que brilha
mais são seus olhinhos cheios de orgulho ou suas lindas lanternas à luz de
vela. Afinal de contas, é motivo de muito entusiasmo participarem de uma festa
à noite, sendo muitas vezes a primeira festinha ao luar de cada um!
Eu
vou com minha lanterna
(música)
Eu
vou com minha lanterna
E ela
comigo vai
No
céu brilham estrelas
Na
terra brilhamos nós
A luz
se apagou
Pra
casa eu vou
Com
minha lanterna na mão
Minha
luz vou levando
Sempre
dela cuidando
Se
alguém precisar
Dela
posso lhe dar
Meu filho não é dessa escola, mas só de ler essa simbologia minha vontade é conhecer uma waldorf hoje mesmo! Lindo demais!
ResponderExcluirJaque
Mari, adorei o seu artigo. Eu conhecia apenas o conto de St. Martin, que tb é um dos motivos para as festas das lanternas la na Alemanha. Voce conhece esse? Ao ver um peregrino passando frio, São Martinho divide seu manto em dois e da uma das partes para o peregrino não morrer de frio. Desde então ele é venerado por ser um símbolo do amor ao próximo cristão. Na Alemanha eles chamam essas festas ou de Festa da Lanterna (Laternenzug) ou de Procissao de São Martinho (Skt. Martins Zug)
ResponderExcluirBeijinhos
Ana
Nossa, não sabia que era tão profunda !!! Uma breve hist´oria, uma lição de vida. Obrigada Mari...
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