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segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Falta de personalidade - um mal na moda

A sociedade em que vivemos está ficando cada vez mais perdida. O ser humano nasce, recebe uma educação na maioria das vezes questionável, se desenvolve (ou ao menos tenta), e começa de imediato a ser interrogado sobre "O que vai ser quando crescer", antes mesmo de saber o que ele de fato é no presente. A preocupação com a profissão ou o rótulo que carregará, antes de descobrir quem ele realmente é, o invade afastando qualquer possibilidade de entrar em contato com seu verdadeiro eu. É comum atribuir-se um peso muito maior ao que os outros vão pensar se o próprio filho não tiver um diploma, do que se ele não tiver personalidade. 

Em função disso, a criança cresce sob a expectativa do desejo dos pais, pois é raro um pai que permita a um filho ser o que ele é. Pais ansiosos e temerosos geralmente querem que o filho seja aquilo que eles esperam que seja, sempre escudados pela preocupação com seu futuro financeiro. E jamais admitindo a vergonha que possam vir a sentir por ter um filho fora do padrão – comumente aquele que dá vazão às suas inclinações artísticas e intrínsecas, optando por alimentar sua alma ao invés de vendê-la a qualquer preço. Cabe aos pais orientar, mas jamais compelir. Sendo este o caso, dá-se início ao falso crescer. Conclusão: crescem achando que sabem o que são, porque se identificam com aquele título que aprenderam a galgar. E assim caminham por toda a vida - falando de si a partir de uma das perguntas que mais respondem: "O que você faz?" E sequer dando espaço ou questionando-se a respeito de "Quem sou eu?" Muito tempo se passou desde que Sócrates afirmava: "Conhece-te a ti mesmo." Mas até hoje pouquíssimos podem compreender a profundidade dessa premissa básica.

"Fazer", todos fazem a mesma coisa dia após dia e continuam exercendo, inclusive, um padrão que diz respeito à infância - seguem imitando uns aos outros como se houvesse um cérebro coletivo que dita as regras. Entretanto, "ser" cada um é algo diferente. Ninguém é igual a ninguém. Mas esse atributo tão essencial e permanente da vida, é deixado de lado em prol do fugaz materialismo. As pessoas aprendem que concordar é o mesmo que "ser educado”, e não percebem que só se desenvolve aquele que discorda.  Por sua vez, os pais têm pérolas em suas mãos, mas atitudes preconceituosas e limitadas aniquilam qualquer possibilidade de criar um Ser humano, e acabam dando ao mundo mais um Ter humano.



A humanidade parece estar com preguiça de crescer e segue na ingênua esperança de que poder e reconhecimento sejam suficientes para que cada um seja dono de si mesmo. Mas é preciso adverti-la de que o verdadeiro e permanente crescimento só pode ser alcançado individualmente. Um indivíduo infeliz não consegue ser pleno sozinho e torna-se parasita de outro mais infeliz ainda. Passam a vida se apoiando em pseudo alegrias e acreditando que “Tudo o que é bom, dura pouco.” Sendo assim, raros vão em busca do auto conhecimento: o real caminho para a felicidade plena e duradoura. Segundo Roberto Crema, “o grande perigo atual, a grande ameaça global se chama normose (a patologia da normalidade). Precisamos de pessoas esquisitas!” Em uma sociedade doente, é preferível sermos anormais.

É claro que o olhar ou a aprovação do outro é fundamental na infância. Ao fazer algo diferente, a criança olha para a mãe com aquele ponto de interrogação impresso em sua face esperando aplausos ou querendo dizer: "Posso fazer isso?" É um ser em construção. Porém o ciclo do "fazer igual" é difícil de ser rompido, e apesar do cenário atual ser a prova viva do estrago, ninguém se atreve a sair da fila para ver o que de fato está à venda. É muito mais comum inibir um comportamento criativo a fim de não ter de lidar com resultados desconhecidos, do que permitir a inovação e colher os possíveis frutos da novidade. Estamos fartos de saber que a maioria das mães (ou pais) nem mesmo estão presentes em grande parte das vezes quando seus filhos precisam de um simples olhar aprovador ou até mesmo recriminador. Mas para que deixemos de precisar de uma referência, ela deve de antemão, ter sido exaustivamente utilizada. Caso contrário, uma constante inquietação vai permanecer ancorada durante a vida inteira. 

Serão os futuros dependentes emocionais: adultos que precisam da aprovação e do olhar do outro para se sentirem amados e seguros. O cuidado que falta na infância, perdura até que a própria pessoa saiba se cuidar e se acolher. Como poucos buscam conhecer-se para lidar saudavelmente com essa questão, mantém-se o comportamento infantil, buscando a atitude que a mãe ou o pai não tiveram, em terceiros. São incapazes de acreditar na própria percepção e recorrem frequentemente ao auxílio de outra pessoa porque a falta de auto confiança os impedem de buscar reconhecimento dentro de si. Passam a vida ansiando por estarem cheio de amigos ou buscando a outra metade da laranja, mas não se dão conta de que estão atrás da satisfação de uma necessidade que só pode ser atendida internamente. A consequência disso é o teatro que vemos hoje. Pessoas extremamente carentes postando fotos e mensagens de todos os tipos pela internet, implorando: "Olhem para mim pelo amor de Deus", "Eu estou aqui", "Eu existo"! Ou encarando do ponto de vista macro, podemos notar o reflexo disso na mídia com suas incansáveis propagandas suplicando para que seus produtos sejam vistos e vendidos. Interessante que embora esteja claro que o que é bom de verdade, não precisa de propaganda... As pessoas continuam indo atrás do que todo mundo compra.

Muitas vezes é preferível ser visto e ouvido por apenas um consumidor ou até mesmo um leitor que seja suficientemente esclarecido, e que fará bom uso do seu “produto”. A ter milhões deles que não compreendem ou estão tão contaminados por seus preconceitos, que só lhes restará criticar o que consumiram a fim de que possam, inutilmente, voltar à sua zona de conforto. 

Já dizia Schopenhauer: "O que falta em qualidade às pessoas do seu convívio tem de ser suprido, em certa medida, pela quantidade. O convívio com um único homem inteligente é suficientemente recompensador, mas, se o que se encontra são apenas tipos ordinários, então faz bem ter uma profusão deles, para que a variedade e a atuação em conjunto produzam algum efeito... E que o céu lhe conceda paciência!"

As crianças precisam ser vistas e ouvidas no momento certo, para que sejam adultos portadores da verdade e não para que busquem a verdade no outro. Uma criança que recebe limites claros e ao mesmo tempo, tem a oportunidade de agir com independência, será sem dúvida um adulto firme e de personalidade indissolúvel. O mundo carece de pessoas assim. E por isso segue nesse ritmo alucinado em sua eterna busca por dinheiro, fama, reconhecimento e poder. São meras máscaras para não entrar em contato com sua essência. Dinheiro é necessário, mas jamais será suficiente. Fama, reconhecimento e poder então, são mediocridades da pior espécie. Não servem para absolutamente nada. Todo aquele que quer aparecer por aparecer é escravo do outro. O homem livre é dono de si mesmo e faz o que faz simplesmente porque se sente bem. Isto não significa que cada um deva sair por aí fazendo o que bem entender ou o que mal entender, como acontece. O ser que descobre a Luz que possui, jamais utilizará seu potencial para o mal do próximo. Ele sabe adequar a sua liberdade para libertar igualmente, todo aquele que se aproxima de si. Ele passa a ser um servidor e não um mero consumidor.  

Rohden, brilhante filósofo e escritor brasileiro, lutou a vida toda pela libertação do homem. Seus preceitos indicam que “não ser moderno exige grande firmeza de caráter e independência de espírito. Para não ser moderno é necessário ser herói. Para ser alguém é preciso ter a coragem de renunciar a algo - e muitas vezes esse algo é quase tudo o que a sociedade preza. Para preservar a sociedade da corrupção, é necessário, não raro, parecer antissocial, não ser um passivo refletor da opinião pública, mas sim um ativo diretor dela”.

Por conseguinte, pessoas assim só aparecem quando a criança interna e ferida de cada um é curada. Infelizmente, parece mais fácil olhar para o espelho e retocar o que podem ver. Não se dão conta de que seu avesso, apesar de não ser diretamente visível, é o único e grande responsável pela vida que expressam. Preferem gastar toda sua energia nas boas aparências... Investem no fugaz e nas efemeridades que residem em tudo que é material. "Por fora bela viola, por dentro pão bolorento". A situação é realmente preocupante.

Quando Krishnamurti trouxe ao mundo uma forma de pensar completamente nova e que, portanto, exigia transformação interior, muitos o criticaram enquanto ele afirmava com veemência: "Falar a pessoas que já deixaram de pensar é muito cansativo. Estão todos um pouco nervosos comigo, visto que sou como um pedaço de espelho que os reflete - sobretudo a eles, o que não lhes agrada."

Ninguém disse que mudar é fácil. Mas é imperativo para quem busca viver uma vida de verdade.

"A vida só é real quando Eu Sou". Gurdjieff

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