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quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Bebês Desvinculados: Adultos Alienados

O tempo passa, as crianças crescem, tornam-se adolescentes e finalmente adultos. Aprendem em uma velocidade absurda, pois depois do amor, o que eles mais buscam é aprendizado. Infelizmente, por nem sempre encontrarem esse amor, acabam sabendo muito, e consequentemente “sendo” e sentindo pouco. Sabem tudo dos últimos lançamentos tecnológicos, são informados a cerca de diversos assuntos que se passam ao redor do mundo: política, manchetes de todos os jornais, vida do vizinho, mas sequer percebem quão desinformados são sobre suas próprias vidas, sobre seu próprio ser, sobre seus sentimentos. Essa alienação é frequentemente, originada no início de tudo, lá na barriga da mãe... É decorrente de um período gestacional carente de vínculo entre gestante e bebê, e acaba consolidando-se com um nascimento proveniente de tal relação.

Sabe-se que o estado emocional da mãe interfere intensamente nos hormônios compartilhados com o bebê. Além da proteção e do cuidado, uma mãe é o maior modelo que um filho tem. Independente dos futuros vínculos e identificações, a convivência simbiótica entre gestante e bebê é determinante e será responsável por todas as relações vindouras. Não adianta fugir. A culpa, ou a responsabilidade, se o termo soar menos ofensivo, é da mãe e ponto final.
Minutos antes do parto, o corpo do bebê libera hormônios supra-renais que o deixam em estado de alerta, a fim de o mobilizar para o desafio que logo enfrentará. Esses mesmos hormônios caminham pelo cordão umbilical, colocando também o corpo da mãe em alerta. E finalmente eles provocam um pico de crescimento cerebral, proporcionando novos campos neurais para a aprendizagem mútua que esperam mãe e bebê. É um processo único que interfere em duas vidas, são dois lutando por uma única causa. Por esse e outros motivos, o final do parto exige a vinculação de ambos, mãe e filho, imediatamente após a saída do bebê do útero. Quando duas pessoas estão torcendo por um mesmo objetivo, o que ocorre quando atingem a vitória? Elas se abraçam calorosamente o tempo que for necessário. Da mesma forma, uma mãe que acabou de dar à luz e um filho que acabou de nascer, tem extrema necessidade desse vitorioso contato. Principalmente por já estarem vivendo juntos há nove meses.

 A simples posição de aninhar o recém-nascido sobre o seio esquerdo é capaz de desencadear uma série de funções que ajudam a cessar a produção dos hormônios de stress necessários para o parto, e deixam o bebê tranquilo para adaptar-se ao novo ambiente. Segundo Chilton Pearce, se esses estímulos não forem fornecidos, os sentidos do bebê permanecem adormecidos e os sentidos já estabelecidos não se confirmam em seu novo contexto. O nascimento propriamente dito fica incompleto e, por isso, a produção dos hormônios supra-renais continua. A proximidade da batida do coração da mãe é a principal prioridade na criação do vínculo e no cessamento da produção dos hormônios de stress. Desta forma, não ocorre nenhuma grande “ansiedade da separação” ou “abandono psicológico”, fatores que tanto perturbam o desenvolvimento.

Ao ouvir o coração da mãe, o coração do bebê recebe este estímulo, ativando um diálogo entre mente e coração. Desta forma, o bebê sente-se acolhido e certifica-se que o parto terminou bem. Além do coração materno enviar informações para seu bebê, o inverso também ocorre. Esse diálogo também ativa inteligências correspondentes na mãe, despertando intuições latentes e ancestrais referentes à proteção e à alimentação.  Sendo assim, esse singelo contato é capaz de fazê-la dar-se conta de tudo o que precisa fazer, já que possibilita uma comunicação intuitiva entre mãe e filho. A mãe se depara com conhecimentos que não podem ser ensinados e nem aprendidos. Uma sabedoria espontânea surge quando a mãe se permite entrar em ressonância com esse novo ser, o qual carrega, a nível intuitivo, o manual de instruções que maternidades e instituições vendem através de cursos que não servem para nada, além de provocar ainda mais ansiedade e insegurança nas gestantes. Tais cursos tentam teorizar um conteúdo que será vivenciado somente durante o parto. Eles antecipam racionalmente uma sabedoria que a natureza se encarrega de entregar de mãos beijadas para toda mãe que recebe seu filho com amor.

Esse amor, quando genuíno, é tão abundante que acaba deixando pouca energia para outras funções. Uma mãe fica tão absorvida no cuidado de seu filho, que é natural o distanciamento das demais atividades. A licença maternidade é uma prova razoável dessa necessidade; razoável pois o tempo de afastamento é mínimo se comparado ao realmente necessário. É inclusive saudável haver um espaçamento entre o nascimento de outros filhos, a fim de que os três primeiros anos de vida de cada um sejam favorecidos, já que são fundamentais para o amadurecimento emocional e biológico não só do filho, como também da própria mãe. É comum, porém lamentável, ouvirmos dizer que após o primeiro filho, os outros são mais “fáceis”. Isso só mostra a mísera importância que é dada à vinculação entre mãe e filho. O segundo, terceiro ou quarto filho precisam exatamente do mesmo cuidado e dedicação do que o primeiro. Uma mãe não é a mesma mãe para diferentes filhos. A cada filho que nasce, nasce também uma nova mãe. A experiência que o primeiro filho trouxe pode ser útil, mas jamais suficiente para lidar com o próximo. O erro está em acreditar que já se sabe... Pois é justamente o fato de não saber, que proporciona a dedicação necessária.

Mais uma demonstração de que o contato mãe e filho é crítico e decisivo, é o fato do próprio cordão umbilical ter sido naturalmente projetado com um comprimento que varia entre 45 e 50 centímetros; assim o recém-nascido pode ser colocado no seio esquerdo da mãe, sendo inclusive amamentado, enquanto ainda permanece conectado à placenta que continua funcionando neste período de adaptação do bebê ao novo ambiente. Trinta por cento de seu sangue permanece na placenta, fornecendo o oxigênio necessário e dando tempo suficiente para que o líquido amniótico escorra de suas narinas e traquéia, permitindo enfim que o recém-nascido descubra calmamente seu novo meio respiratório. Chilton Pearce é categórico quanto aos infelizes procedimentos que têm sido exaustivamente utilizados nas maternidades de hoje em dia:

Nossos “médicos”, porém, vêm cortando rotineiramente o cordão umbilical assim que o bebê está fora do útero, colocando-o imediatamente em situação de privação de oxigênio, um dos maiores temores de todos os mamíferos. Com dificuldade, o recém-nascido tenta respirar antes que as vias nasais estejam desobstruídas e acaba engasgando com o muco e o líquido amniótico; prontamente o puxam pelos calcanhares e dão-lhe uma palmada nas costas para que possa expelir um suposto tampão de muco e respirar pela primeira vez... O desastre realmente mais importante da História é a separação entre mãe e bebê no parto. Essa experiência de abandono é o fato mais devastador que pode haver na vida, deixando-os lesados emocional e psicologicamente.

A amamentação é outro requisito básico e que continua deficiente em grande parte dos casos. Pesquisas mostram que bebês amamentados com leite materno são mais inteligentes do que os alimentados com mamadeira. Como este dado é alarmante e 97% da população norte-americana é alimentada com mamadeira, é claro que surgem diversas oposições. As controvérsias partem de mães alegando que não amamentaram, mas seus filhos são sim inteligentes.  É importante lembrar que o excesso de racionalismo é muitas vezes visto como "inteligência", porém comumente é uma válvula de escape para aqueles indivíduos que apresentam desenvolvimento emocional e afetivo fragilizado. Devido ao sentimento de abandono e desvalorização, os mesmos tendem a buscar uma compensação em outras esferas a fim de não entrarem em contato com sua carência afetiva. Ser inteligente não é somente passar em primeiro lugar no vestibular. Gardner fala das diversas inteligências que cada ser humano pode apresentar; sendo uma delas a inteligência emocional. O inteligente emocional é extremamente criativo, possui imensa habilidade em lidar com situações desconhecidas, além de ser mais humano e solidário. É capaz de expandir-se profissionalmente em diversas áreas, tendo inclusive maiores chances de se sentir pleno e realizado. E para ser assim, basta ter sido amado.


Chilton Pearce assinala que bebês colocados em outras posições que não a do seio para tomar mamadeiras ou mantidos muito tempo em berços ou carrinhos, correm o risco biológico de ter um desenvolvimento físico e emocional atrofiado. Enquanto na situação inversa, ou seja, havendo contato e amamentação materna, independente do que aconteça depois com a criança, a segurança que recebeu através desse vínculo, lhe permitirá enfrentar os problemas e ela se tornará alguém que se sente à vontade num mundo de constante movimento e mudança. Serão indivíduos integrais, que sabem lidar com adversidades e que por terem sido preenchidos com carinho, cuidado, proteção e dedicação, não precisam buscar compensações externas. Buscam sim serem cada vez melhores, para que possam preencher o outro com suas riquezas internas e não para serem preenchidos por riquezas triviais.  Como já dizia a sábia Clarice Lispector: “Não procure alguém que te complete. Complete a si mesmo, e procure alguém que te transborde.”

4 comentários:

  1. Excelente texto!

    Abs

    Luiza

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  2. Olá Maria Inez!

    Boa tarde! Espero que estejas bem :)

    Como sempre belos textos! Que proporcionam dias de reflexão, independente de ter ou não um filhinho.

    Gostaria de fazer uma pergunta.

    O que vc acha da palmada e puxão de orelhas?

    Quero educar os meus com conversas e castigo em casos raros.

    Toda luz p vc e p os seus.

    Forte abraço, Sibele.

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    Respostas
    1. Olá Sibele!!!

      Sem dúvida as reflexões existem, pois independente de ter ou não um "filhinho", você é filha! E sendo assim, não somente vivenciou, como continua vivenciando tais experiências.

      Vamos lá... Educar sem bater é premissa básica para todos os pais! Bater é um erro porque só a criança que não recebe boa educação poderia dar motivos para uma atitude extrema. E se ela não recebe boa educação, é porque os pais não cumpriram seu papel. Portanto, se a falha é deles, não podem descontar sua incompetência no filho. Uma criança bem educada e bem tratada não apresenta motivos para ser castigada; já que ela é mero reflexo dos pais. Se ela reage agressivamente, é preciso investigar quem ela está imitando; pois na grande maioria dos casos encontra-se o mesmo comportamento agressivo no ambiente familiar. Quando se levanta uma mão para um filho, levanta-se uma mão para si mesmo. Por isso é fundamental pensar duas vezes antes de cometer tal violência.

      Bjs

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  3. Adorei seu blog Maria Inez!

    Vou divulgar na minha cidade.

    Tudo de bom.

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