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terça-feira, 22 de julho de 2014

Parto Normal x Cesárea: opostos que não se atraem





A natureza é sábia. E como os animais estão mais próximos a ela do que nós, humanos, podemos considerá-los em muitos aspectos, mais sábios do que a humanidade em geral.
Grande parte dos mamíferos fêmea, quando está prestes a dar à luz, procura um lugar seguro e isolado, preferencialmente escuro e onde reine a mais sublime tranquilidade. Qualquer sinal de perigo (seja a aproximação de algum animal ou a simples queda de uma folha), inibe a respiração da mãe até que ela se sinta novamente segura.

Se compararmos este cenário com o ambiente hospitalar, torna-se nítida a assustadora diferença entre ambos. Só o fato de se estar em um hospital, já provoca uma drástica diminuição no processo de respiração – fundamental para um trabalho de parto tranquilo. Quando a gestante se sente acolhida e em contato com ela mesma e a natureza, ela pode dar à luz em até vinte minutos. Porém, no caso de qualquer interferência, não importando o tipo nem o motivo da intervenção, sua respiração sofre diminuição ou pode até ser interrompida, prolongando o trabalho de parto por horas. Isso ocorre por essa alteração respiratória ser razão suficiente para a mãe perder a coordenação muscular necessária para lidar com as contrações uterinas. A sabedoria tão natural que a natureza proporciona é negligenciada em prol de questões culturais e do excesso de informações médicas, que por tantas vezes, mais atrapalham do que ajudam.

É claro que não há o que discutir em casos onde há uma real necessidade cirúrgica. Entretanto é alarmante o número de cesarianas agendadas em casos de gestações que dispensam esse tipo de procedimento. O Brasil está entre os recordistas mundiais de cesárea. Em 2013, registrou-se uma taxa de 84% de cesáreas em hospitais particulares, enquanto o recomendável pela OMS é 15%. Isso é extremamente preocupante. E embora não possamos negar a importância das intervenções médicas quando necessário, “quando necessário” tem se transformado em “quase sempre”. Esse é um ponto delicado, pois se refere a uma transformação que tem origem em questões de interesses econômicos, além de pessoais, e torna-se extremamente complexo abordar esse assunto em âmbito público. Infelizmente a sociedade está constituída de tal forma, que aquele que ergue a bandeira da verdade é tido como transgressor ou excomungado, simplesmente porque a verdade dói e irrita. Em um mundo onde a esmagadora maioria prefere caminhar seguindo pegadas desgastadas que culminam em lugar algum, ao invés de criar seu próprio caminho e buscar o tesouro que pouquíssimos são capazes de encontrar... Não se poderia esperar resultado diferente. Aquele que “enxerga” é temido pelo sistema, pois a sua visão pode mudar uma “ordem” que apesar de caótica, mantém o povo sob as rédeas da aceitação. No fundo, os que pregam essa ordem sabem que aquele que foge do padrão não é escravo da falsa organização que o homem vive e sabem que os grandes revolucionários foram os que fizeram diferente e disseram não, enquanto todo o resto dizia sim. Assim fizeram os extremistas, os líderes, os santos e todos os que desvendaram a Verdade e tentaram mostrá-la ao mundo. Afinal de contas, “Onde a ignorância é uma bênção, é loucura ser sábio.”

Chilton Pearce passou a recusar convites para discursar em determinadas conferências e workshops, devido ao episódio que relata a seguir:

 “Um pouco antes de eu estar agendado para falar em uma conferência sobre vínculo no nascimento, eu recebi um longo formulário do Colégio Americano dos Obstetras declarando que eu teria que evitar, negando através da minha assinatura, qualquer conflito ou interesse que eu como um apresentador na conferência pudesse ter com as práticas do Colégio de Obstetras. Neste formulário eu fui alertado que a minha não obediência resultaria em várias medidas tomadas pelo Colégio, incluindo a de informar ao público presente sobre o meu não cumprimento - o que supostamente iria minar a minha credibilidade. O Colégio Americano de Obstetras, consistindo de aproximadamente quarenta mil obstetras, tinha acabado de instalar uma resolução de que qualquer mulher que desejasse ter um parto cesariano poderia tê-lo sem uma justificativa médica. Interessante é que ambos, os hospitais e obstetras, ganham muito mais dinheiro com cesáreas do que com o parto comum via vaginal, e depois dos cirurgiões cardíacos, os obstetras são os médicos mais bem pagos, com uma contabilidade de nascimentos maior do que a receita de todo o hospital. Além do mais, é fato que a grande maioria dos hospitais pertence a grandes cadeias corporativas e a Associação Médica Americana é um potencial político que deve ser levado em consideração. Não preciso dizer que desprezei o formulário, e desde então me recuso a falar sobre a larga escala dos danos cometidos nas maternidades”.

O parto normal tem perdido espaço para cirurgias onde o personagem principal deixa de ser o bebê ou a mãe, e passa a ser o médico. Tiraram das mãos da mãe a arte de dar à luz, e deram ao médico o poder de permitir que um bebê nasça somente através da sua presença. Dias depois, essa mesma mulher que carrega dentro de si o maior dom do mundo, que é ser mãe, não sabe o que fazer com o ser que acabou de gerar e contrata novamente um terceiro para lhe “ditar” regras e fazer o que ela nasceu sabendo, mas foi impossibilitada de acreditar por ter sido ensinada a depender do outro e jamais de si mesma. Pessoas assim, vão sempre buscar a luz fora de si, e dificilmente se darão conta de que a luz está dentro delas mesmas.

Isso propicia um círculo vicioso, pois uma mãe dependente cria filhos dependentes. Um bebê que nasce de parto normal trabalha tanto quanto a mãe, obviamente que em diferentes graus, mas há uma ajuda mútua intrínseca e insubstituível. Mãe e filho entram em ressonância com a natureza e a força da vida incentiva ambos a exercitarem-se a fim de que o nascimento ocorra. Bebês que nascem de cesárea são privados desse movimento natural, e a força que supostamente deveria vir de dentro, vem de fora.  O esforço é em vão, ou na maioria das vezes nulo. Posteriormente serão adultos passivos, que tem dificuldade de ir à luta, pois sua primeira impressão foi a de que lutaram em seu lugar. A passagem pelo canal vaginal é também responsável por uma série de estímulos corporais dos quais o bebê necessita para vir ao mundo de maneira saudável, sua saída é preparada e feita aos poucos. Na cesárea o bebê é subitamente arrancado da barriga da mãe. Já imaginou o susto?

Mais uma vez os animais estão aí para nos ensinar. Ashley Montagu, em seu brilhante livro “Tocar – O significado humano da pele”, fez uma extensa análise sobre a importância do toque nos animais racionais e irracionais. Todos sabem que um filhote recém-nascido deve ser lambido para sobreviver, pois caso isso não ocorra ele provavelmente morrerá. Porém, a mãe mamífera não o lambe a fim de simplesmente limpá-lo, como muitos pensam. A verdadeira função das lambidas é muito mais profunda, pois se refere à estimulação cutânea essencial ao desenvolvimento orgânico e comportamental de sua cria. Pesquisas realizadas com ratos mostraram o quanto essas carícias foram decisivas no desenvolvimento de seu comportamento. Estas resultaram em animais suaves e tranquilos, enquanto a ausência ocasionou animais temerosos e agitados.

Cesárea – 9 razões para desmarcar

Para completar, após um parto hospitalar, seja ele normal ou cesárea, o bebê é encaminhado a inúmeros procedimentos que o impedem do contato com quem ele esteve grudado por nove meses. O parto humanizado de verdade (não aquele que é vendido pela indústria das maternidades), tem feito suas contribuições neste quesito. Porém, o que as mulheres precisam saber é que não se deve esperar essa conduta da equipe médica, isso deve ser exigido pela única e verdadeira interessada: a mãe. A importância do seu toque, da troca de olhares, de deixar o bebê ouvir o som do coração materno (esse gesto é capaz de relaxá-lo, pois lhe soa como uma música profundamente conhecida) e de colocá-lo em contato com o seio a fim de amamentá-lo é tamanha, que qualquer ser humano realmente humano, deveria se preocupar em colocar esse tipo de informação em outdoors ou jornais, e não o lixo consumista com o qual nos deparamos diariamente. É o primeiro suspiro, são as primeiras impressões... Qualquer tentativa de mudança no que vemos hoje, pode começar aí. Não adianta tentar reeducar um povo que não teve seus cuidados básicos atendidos.


Está mais do que na hora das pessoas começarem a desconfiar do que a maioria faz. Pensar ao invés de ser pensado faz toda a diferença. O provérbio “A voz do povo é a voz de Deus” multiplicou-se indevidamente, pois foi recortado de uma carta de Alcuin para Carlos Magno em 798, cujo contexto carrega exatamente o significado oposto:

“Nec audiendi qui solent dicere, Vox populi, vox Dei, quum tumultuositas vulgi semper insaniae proxima sit” - E essas pessoas não devem ser ouvidas por quem continua dizendo que a voz do povo é a voz de Deus, desde que a devassidão da multidão sempre está muito próxima da loucura.

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