A natureza é sábia. E como os
animais estão mais próximos a ela do que nós, humanos, podemos considerá-los em
muitos aspectos, mais sábios do que a humanidade em geral.
Grande parte dos mamíferos fêmea,
quando está prestes a dar à luz, procura um lugar seguro e isolado,
preferencialmente escuro e onde reine a mais sublime tranquilidade. Qualquer
sinal de perigo (seja a aproximação de algum animal ou a simples queda de uma
folha), inibe a respiração da mãe até que ela se sinta novamente segura.
Se compararmos este cenário com o
ambiente hospitalar, torna-se nítida a assustadora diferença entre ambos. Só o
fato de se estar em um hospital, já provoca uma drástica diminuição no processo
de respiração – fundamental para um trabalho de parto tranquilo. Quando a
gestante se sente acolhida e em contato com ela mesma e a natureza, ela pode
dar à luz em até vinte minutos. Porém, no caso de qualquer interferência, não
importando o tipo nem o motivo da intervenção, sua respiração sofre diminuição
ou pode até ser interrompida, prolongando o trabalho de parto por horas. Isso
ocorre por essa alteração respiratória ser razão suficiente para a mãe perder a
coordenação muscular necessária para lidar com as contrações uterinas. A
sabedoria tão natural que a natureza proporciona é negligenciada em prol de
questões culturais e do excesso de informações médicas, que por tantas vezes,
mais atrapalham do que ajudam.
É claro que não há o que discutir
em casos onde há uma real necessidade cirúrgica. Entretanto é alarmante o
número de cesarianas agendadas em casos de gestações que dispensam esse tipo de
procedimento. O Brasil está entre os recordistas mundiais de cesárea. Em 2013, registrou-se uma taxa de 84% de cesáreas em hospitais particulares, enquanto o recomendável pela OMS é 15%. Isso é extremamente preocupante. E embora não possamos negar a importância das intervenções médicas
quando necessário, “quando necessário” tem se transformado em “quase sempre”.
Esse é um ponto delicado, pois se refere a uma transformação que tem origem em
questões de interesses econômicos, além de pessoais, e torna-se extremamente
complexo abordar esse assunto em âmbito público. Infelizmente a sociedade está
constituída de tal forma, que aquele que ergue a bandeira da verdade é tido
como transgressor ou excomungado, simplesmente porque a verdade dói e irrita. Em
um mundo onde a esmagadora maioria prefere caminhar seguindo pegadas
desgastadas que culminam em lugar algum, ao invés de criar seu próprio caminho e
buscar o tesouro que pouquíssimos são capazes de encontrar... Não se poderia
esperar resultado diferente. Aquele que “enxerga” é temido pelo sistema,
pois a sua visão pode mudar uma “ordem” que apesar de caótica, mantém o povo
sob as rédeas da aceitação. No fundo, os que pregam essa ordem sabem que aquele
que foge do padrão não é escravo da falsa organização que o homem vive e sabem
que os grandes revolucionários foram os que fizeram diferente e disseram não,
enquanto todo o resto dizia sim. Assim fizeram os extremistas, os líderes, os
santos e todos os que desvendaram a Verdade e tentaram mostrá-la ao mundo. Afinal de contas, “Onde
a ignorância é uma bênção, é loucura ser sábio.”
Chilton Pearce passou a recusar
convites para discursar em determinadas conferências e workshops, devido ao
episódio que relata a seguir:
“Um pouco antes de eu estar agendado para
falar em uma conferência sobre vínculo no nascimento, eu recebi um longo
formulário do Colégio Americano dos Obstetras declarando que eu teria que
evitar, negando através da minha assinatura, qualquer conflito ou interesse que
eu como um apresentador na conferência pudesse ter com as práticas do Colégio
de Obstetras. Neste formulário eu fui alertado que a minha não obediência
resultaria em várias medidas tomadas pelo Colégio, incluindo a de informar ao
público presente sobre o meu não cumprimento - o que supostamente iria minar a
minha credibilidade. O Colégio Americano de Obstetras, consistindo de
aproximadamente quarenta mil obstetras, tinha acabado de instalar uma resolução
de que qualquer mulher que desejasse ter um parto cesariano poderia tê-lo sem
uma justificativa médica. Interessante é que ambos, os hospitais e obstetras,
ganham muito mais dinheiro com cesáreas do que com o parto comum via vaginal, e
depois dos cirurgiões cardíacos, os obstetras são os médicos mais bem pagos,
com uma contabilidade de nascimentos maior do que a receita de todo o hospital.
Além do mais, é fato que a grande maioria dos hospitais pertence a grandes
cadeias corporativas e a Associação Médica Americana é um potencial político
que deve ser levado em consideração. Não preciso dizer que desprezei o
formulário, e desde então me recuso a falar sobre a larga escala dos danos
cometidos nas maternidades”.
O parto normal tem perdido espaço
para cirurgias onde o personagem principal deixa de ser o bebê ou a mãe, e
passa a ser o médico. Tiraram das mãos da mãe a arte de dar à luz, e deram ao
médico o poder de permitir que um bebê nasça somente através da sua presença.
Dias depois, essa mesma mulher que carrega dentro de si o maior dom do mundo,
que é ser mãe, não sabe o que fazer com o ser que acabou de gerar e contrata novamente
um terceiro para lhe “ditar” regras e fazer o que ela nasceu sabendo, mas foi
impossibilitada de acreditar por ter sido ensinada a depender do outro e jamais
de si mesma. Pessoas assim, vão sempre buscar a luz fora de si, e dificilmente
se darão conta de que a luz está dentro delas mesmas.
Isso propicia um círculo vicioso,
pois uma mãe dependente cria filhos dependentes. Um bebê que nasce de parto
normal trabalha tanto quanto a mãe, obviamente que em diferentes graus, mas há
uma ajuda mútua intrínseca e insubstituível. Mãe e filho entram em ressonância com
a natureza e a força da vida incentiva ambos a exercitarem-se a fim de que o
nascimento ocorra. Bebês que nascem de cesárea são privados desse movimento
natural, e a força que supostamente deveria vir de dentro, vem de fora. O esforço é em vão, ou na maioria das vezes
nulo. Posteriormente serão adultos passivos, que tem dificuldade de ir à luta,
pois sua primeira impressão foi a de que lutaram em seu lugar. A passagem pelo
canal vaginal é também responsável por uma série de estímulos corporais dos
quais o bebê necessita para vir ao mundo de maneira saudável, sua saída é preparada
e feita aos poucos. Na cesárea o bebê é subitamente arrancado da barriga da
mãe. Já imaginou o susto?
Mais uma vez os animais estão aí
para nos ensinar. Ashley Montagu, em seu brilhante livro “Tocar – O significado
humano da pele”, fez uma extensa análise sobre a importância do toque nos
animais racionais e irracionais. Todos sabem que um filhote recém-nascido deve ser
lambido para sobreviver, pois caso isso não ocorra ele provavelmente morrerá. Porém,
a mãe mamífera não o lambe a fim de simplesmente limpá-lo, como muitos pensam.
A verdadeira função das lambidas é muito mais profunda, pois se refere à
estimulação cutânea essencial ao desenvolvimento orgânico e comportamental de
sua cria. Pesquisas realizadas com ratos mostraram o quanto essas carícias
foram decisivas no desenvolvimento de seu comportamento. Estas resultaram em
animais suaves e tranquilos, enquanto a ausência ocasionou animais temerosos e
agitados.
Cesárea – 9 razões para desmarcar
Para completar, após um parto
hospitalar, seja ele normal ou cesárea, o bebê é encaminhado a inúmeros
procedimentos que o impedem do contato com quem ele esteve grudado por nove
meses. O parto humanizado de verdade (não aquele que é vendido pela indústria
das maternidades), tem feito suas contribuições neste quesito. Porém, o que as
mulheres precisam saber é que não se deve esperar essa conduta da equipe
médica, isso deve ser exigido pela única e verdadeira interessada: a mãe. A
importância do seu toque, da troca de olhares, de deixar o bebê ouvir o som do
coração materno (esse gesto é capaz de relaxá-lo, pois lhe soa como uma música
profundamente conhecida) e de colocá-lo em contato com o seio a fim de amamentá-lo
é tamanha, que qualquer ser humano realmente humano, deveria se preocupar em
colocar esse tipo de informação em
outdoors ou jornais, e não o lixo consumista com o qual nos deparamos diariamente.
É o primeiro suspiro, são as primeiras impressões... Qualquer tentativa de
mudança no que vemos hoje, pode começar aí. Não adianta tentar reeducar um povo
que não teve seus cuidados básicos atendidos.
Está mais do que na hora das
pessoas começarem a desconfiar do que a maioria faz. Pensar ao invés de ser
pensado faz toda a diferença. O provérbio “A voz do povo é a voz de Deus” multiplicou-se
indevidamente, pois foi recortado de uma carta de Alcuin para Carlos Magno em
798, cujo contexto carrega exatamente o significado oposto:
“Nec audiendi qui solent dicere, Vox
populi, vox Dei, quum tumultuositas vulgi semper insaniae proxima sit” - E
essas pessoas não devem ser ouvidas por quem continua dizendo que a voz do povo
é a voz de Deus, desde que a devassidão da multidão sempre está muito próxima
da loucura.
Nenhum comentário:
Postar um comentário