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sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Brinquedo – amigo ou inimigo da criança?

Lembro de ouvir minha avó dizer que “naquela época” os brinquedos não eram como atualmente... Não havia botões de liga e desliga, era a própria criança que conduzia seu brinquedo (além de muitas vezes construí-lo) e com ele, realizava movimentos em todas as direções. Não havia luzes piscando sem parar, pois eram seus olhos que brilhavam ao criar e recriar novas formas. Também não emitiam sons, pois era sua própria voz, a responsável por cantarolar melodias ou imitar o que ouvia a mãe ou o pai dizer no dia a dia. Lojas de brinquedos? No quintal da própria casa! Onde junto com seus irmãos ela juntava pedaços de madeira, folhas, galhos e diversos outros materiais para concretizar o carrinho de bonecas que ela idealizou. Um carrinho que mesmo ficando meio torto, dava asas à sua imaginação... Além de ter um valor emocional incomparável.

No cenário atual, vemos crianças alucinadas pelos brinquedos que a televisão, impiedosamente, lança aos seus olhares. Indústrias visando atingir um consumidor infantil, que dependendo da idade, não sabe nem se vestir sozinho. Mas que desde pequeno, torna-se alvo de uma oferta desenfreada que pouco se importa com a qualidade moral do que oferece, pois seu único objetivo é o lucro. Infelizmente, o erro começa em permitir que esses pequenos, tão indefesos frente aos cruéis interesses de terceiros, sejam expostos a conteúdos midiáticos que além de nada terem de positivo, inibem o potencial criativo inato a toda criança, mas que atrofia, quando exposto a ideias prontas. 
(Mais informações a respeito dos malefícios da televisão: 

E os pais? Não há dúvidas de que buscam o melhor para seu filho. Mas o que é melhor, afinal? O que ele viu na televisão e esperneia para adquirir sem nem saber direito pra que serve, ou aquilo que a consciência paterna sabe que não precisa de propaganda para vender, pois toda criança adora; entretanto, dá mais trabalho para guardar e limpar após o uso? O carrinho que anda sozinho, apita, bate, volta, gira e acende vai entretê-la por uns 5 minutos, e nada vai acrescentar à sua alma nem ao seu corpo, sedentos por imaginação e movimento. Um papel com tinta e pincel ou um passeio ao ar livre, vai entretê-la por um longo período, além de preenchê-la com vivências e experiências carregadas de significado. Uma criança que desenha, imagina. Uma criança que aperta botões, faz o quê? Uma criança que ouve histórias, sonha. Uma criança que assiste à televisão, faz o quê? Uma criança que corre e pula, utiliza o estoque de energia que tem no corpo, além de confrontar-se com a força gravitacional e os elementos da natureza: ar, água, fogo e terra; contatos fundamentais para um ser que é recém-chegado a Terra, e que por isso, necessita dessas percepções mais do que em qualquer outra fase da vida. O conteúdo básico do brincar de toda criança durante o primeiro setênio, deve ser conhecer o meio ambiente onde vive. Desta forma, quando chegar à idade escolar (após os sete anos), estará pronta para pensar sobre tudo aquilo que vivenciou.

No primeiro quadrinho, o "bem-intencionado" executivo olha para a aldeia e pensa: "Que condições deploráveis! Estas crianças não tem nenhum computador! Preciso fazer algo!" Ao seu redor, crianças praticam, alegremente, atividades esportivas

Um ano depois. As crianças deixam de interagir entre si e reclamam: - Senhor, eu preciso de um upgrade! - Mais... um... jogo... - É só clicar, seu newbie! - Como eu vou assistir o Youtube com essa rede tão lenta? - Não me incomode, estou num chat! - Eu faço uma fortuna tirando minha camisa na webcam! As outras pessoas estão trancadas em suas "casas". E a bola de futebol, abandonada, cria teias de aranha. 

É preciso tomar muito cuidado com as aparências, pois de fato os objetos vendidos pela indústria dos brinquedos, são extremamente lindos e atraentes. Mas devemos sempre nos lembrar de um velho ditado que vale tanto para objetos inanimados, como para nós, seres vivos: “Por fora bela viola, por dentro pão bolorento”. Precisamos estar atentos à essência de tudo aquilo que apresentamos aos nossos filhos, pois as aparências, definitivamente, enganam. “As crianças são sufocadas com objetos que não representam alguma coisa, já são essa coisa”. Chilton Pearce

Um brinquedo, portanto, é amigo da criança quando for simples, sem muitos detalhes e pouco sofisticado. Desta forma, oferece à criança infinitas possibilidades de criação e interação, estimulando sua fantasia ao invés de atrofiá-la.  Caso contrário, essa força imaginativa, que anseia por desabrochar, fica represada no organismo infantil perturbando seu funcionamento, resultando em malcriações, mau humor e enfermidades. Rudolf Steiner nomeava esse represamento das forças da fantasia na criança de “surra interior”, tão prejudicial é para ela tal fenômeno! É inclusive considerado mais nocivo do que a surra física, cujos malefícios já nos são muito bem conhecidos.

Caroline Von Heydebrand assinala que é melhor uma criança aprender a abotoar e desabotoar numa calça ou num avental do que num apetrecho “pedagógico” inventado para esse fim. Aquela atividade acontece na vida, e esta é abstrata. As crianças querem estar no meio da vida.

Infelizmente, a rotina corrida dos pais e sua falta de tempo, acabam permitindo que seus filhos vivam em um mundo virtual. Contudo, ao colocarmos uma criança no mundo real, devemos ter consciência de que ela precisa e merece viver uma vida de verdade, com um brincar de verdade. Afinal de contas, brincadeira é coisa séria. 

"Somente o homem que brinca é inteiramente homem." Friedrich Schiller

3 comentários:

  1. Mari, sua habilidade com as palavras é realmente admirável!É do coração, e isso a gente sente de longe. Que nossas crianças possam receber um olhar mais atento e carinhoso hoje e sempre.Saudades de você...Bjo
    Marisa

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  2. É verdade que os pais fazem tudo na melhor das intenções Maria Inez. Mas confundem simplicidade com precariedade e complexidade com essencial. E ao que parece é exatemente o contrário!!!!!!! O simples é essencial e o complexo: precário. Valeu a dica!!!!!!!!!!! Luz na sua jornada.
    Simone

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  3. Adorei o texto Mari!

    Já encaminhei p o jornal circular do instituto.

    Forte abraço. Jo

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