Hoje em dia, a falta
de imaginação e criatividade é um dos males que mais atingem os adolescentes.
Na infância, esquece-se o fato de que é com os sentimentos que o ser humano se
relaciona com o mundo, sendo somente mais tarde que seu raciocínio intervém.
Entretanto as
crianças são bombardeadas de informações de conteúdo abstrato antes de estarem
prontas para tal. Recebem estímulos precoces que produzem efeito nocivo ao seu
desenvolvimento sadio. A sociedade moderna criou uma falsa crença de que quanto
mais cedo a criança aprende, mais rápido se desenvolve. Porém, esquece-se de
acrescentar a essa informação o fato de que apesar do cérebro humano estar em
constante desenvolvimento, deve receber estímulos adequados à fase psicoevolutiva
em que se encontra. É claro que uma criança vai aprender tudo o que for
ensinado a ela, mas pouco se questiona sobre o fato de ela estar preparada para
lidar emocionalmente com determinado conteúdo ou não.
É um grande
equívoco ensinar conceitos prontos e
preceitos teóricos para crianças que estão apenas descobrindo o mundo. Elas não
têm a chance de experimentar por elas mesmas. O esforço que seria por elas
utilizado para chegar a alguma conclusão é nulo, ou seja, aquilo que ela
aprenderia naturalmente, através de vivências concretas, é embutido em seu
cérebro de maneira fixa e imposta. Os conceitos são necessários, porém devem
surgir suavemente, com vivacidade e desde que sejam passíveis de transformação.
Além da
precocidade a nível conceitual, existem escolas que se vangloriam (e pais que ficam
maravilhados!) ao informar que ensinam “Educação Moral e Cívica” para crianças
no jardim da infância. Pais orgulhosos dizem “Ah, meu filho já aprende na
escolinha que não pode jogar lixo no chão.” Mas será que já pararam para pensar
“como” ele recebe essa informação? Não basta nos preocuparmos com “o que”
nossos filhos aprendem, saber “como” e “quando” também é essencial. Uma criança
que vê dia após dia os pais jogando lixo no local apropriado, realmente precisa
ter uma aula sobre esse tipo de instrução na escola, sabe-se lá de que forma? Dependendo
da maneira como tal regra é recebida, ocorre mero adestramento! E ao invés de
agregar, pode vir a inibir um comportamento que seria extremamente
natural.
Segundo Rudolf
Lanz, ex-presidente da Sociedade Antroposófica no Brasil, “em vez de receber
conceitos, a criança deve aprender a tirar conclusões. Toda precocidade a esse
respeito, ao contrário do que se poderia pensar, enfraquecerá a autonomia moral
depois dos 21 anos de idade. O adulto será tanto mais independente e livre em
seus julgamentos morais, quanto mais tarde tiver sido chamado a emiti-los.” O
que se poderá esperar então, de jovens que foram ensinados a pensar
conceitualmente quando mal haviam saído das fraldas?
É recente o caso
de uma menina de 4 anos de idade que se queixava de dor nas mãos para sua mãe.
Após ir ao médico, recebeu o diagnóstico de L.E.R. (Lesões por Esforços Repetitivos).
Imediatamente a mãe comunicou a escola, que se dispôs a diminuir algumas
atividades. Se não tivesse surgido um bode expiatório para refrear esses possíveis
exercícios em série, ninguém sabe qual seria o tamanho do estrago.
Não há espaço!
Desde criança, os pequenos já não tem tempo para brincar por que “precisam”
fazer milhares de atividades: computação, judô, Inglês, natação, música, ballet,
etc, etc, etc. Há uma pressa, uma euforia, uma necessidade de mostrar que a
criança já sabe isso ou aquilo, que já aprendeu a contar antes mesmo de falar
direito. Pra que isso? Não será essa a atitude de pais inseguros e que usam os
“avanços” dos filhos para esconder suas próprias fragilidades?
Reinhard Kahl, renomado
jornalista alemão, denomina as escolas de hoje “escolas da vergonha”. A divisão
dos alunos de acordo com a capacidade intelectual, deixa os mais fracos
incisivamente expostos deflagrando o que estes não podem realizar naquele
momento e privilegiando outros apenas por seu desempenho lógico. Deixam de
olhá-los por inteiro. Esquecem que a inteligência é importante, mas é apenas um
entre os diversos atributos a serem desenvolvidos no ser humano. Ignoram a criatividade, as habilidades sociais
e as condutas emocionais, entre outras. Características estas de extrema
importância e as únicas através das quais se torna possível construir algo mais
humano e compassivo no mundo.
Por que ainda
não ensinaram crianças a dirigir? Será esta a próxima oferta das “grandes”
escolas? É imprescindível observar que a criança tem anos pela frente a seu
favor, a natureza foi sábia o suficiente para oferecer possíveis progressos de
acordo com a maturidade. O ditado “a pressa é inimiga da perfeição” carrega uma
sabedoria inominável. Entretanto, ao transmitir conhecimentos de raciocínio
lógico a crianças que mal falam direito, elas sentem-se obrigadas a assimilar,
pois confiam em tudo aquilo que figuras de referência como pais e professores a
oferecem. Todavia, áreas de seu cérebro que deveriam estar ocupadas em
desenvolver seus aspectos físicos e emocionais, passam a se envolver em
aprendizados que deveriam ser apresentados anos mais tarde, não fosse o
imediatismo da vida moderna. A
antecipação de determinadas capacidades, gera um reflexo sobre as demais. Um
precoce excesso de estímulos ligados ao intelecto leva a uma hipertrofia de
capacidades racionais, criando-se um desequilíbrio, e inclusive uma possível
atrofia de outras de caráter psicológico, por exemplo. A consequência disso são
adolescentes capazes de enfrentar um vestibular, mas incapazes de lidar com
suas próprias emoções. Adultos que aos 35 anos já atingiram o ápice da
carreira, mas que no quesito relacionamentos, estão engatinhando. Tornam-se
analfabetos emocionais.
As escolas
acabam se perdendo nessa maré de informações pois passam a fornecer a educação
de acordo com a busca dos pais. E inicia-se um círculo vicioso sem fim. Pais
ansiosos, filhos sobrecarregados e escolas que oferecem a hiperestimulação como
uma forma de ensino saudável. Para completar, ao chegarem em casa não encontram
um ambiente de acolhimento onde possam simplesmente brincar. Pelo contrário,
enfrentam a ausência dos pais e são arremessadas em mais atividades. Isso para
não dizer quando são entregues a aparelhos televisivos ou eletrônicos em geral,
os quais trazem a crença de que “relaxam”. A esse respeito, Heinz Buddemeier, especialista alemão na Ciência dos Meios de Comunicação, esclarece,
“quem está cansado procura distanciar-se, assim que possível dos estímulos
sensoriais do dia. Quando se vê televisão, acontece o contrário: a consciência
amortecida é bombardeada com impressões óticas e acústicas ainda mais
intensivas do que as do dia a dia. Com isso é provocado um estado de tensão
interna, que subjetivamente é sentido como estado de atenção”. Ou seja, a
grande maioria das crianças contemporâneas está constantemente em estado de
alerta. São os adultos estressados de amanhã.
Crianças são
simples, os adultos é que as complicam. Crianças são capazes de realizar o que
adultos deixaram de ser. Elas criam e transformam objetos com a maior maestria,
mas a escassez desses atributos em seus cuidadores, faz com que a criação ceda
seu lugar ao comodismo. Lojas de brinquedos são abarrotadas de brinquedos
prontos, pobres e inúteis. Porém a sociedade continua aplaudindo impiedosamente
lançamentos infantis onde ao apertar um botão, a criança olha passivamente ao
espetáculo que um pedaço de plástico qualquer reproduz. Isso as aprisiona e
aniquila seus questionamentos. Não é à toa que a sabedoria inconsciente das crianças, as fazem abandonar esses brinquedos após alguns minutos de falso entretenimento.
Também chama atenção como os adultos além de incentivarem os pequenos a se entreterem com eletrônicos, também ficam admirados com a habilidade que todos têm ao manuseá-los. É frequente a frase: "Nossa, é impressionante como ele mexe direitinho no celular!" Mas o que impressiona tanto, afinal? Talvez um macaco mexendo em um ipad habilmente, fosse motivo de real espanto! Mas para um ser humano que é capaz de aprender faculdades complexas como andar, falar e pensar? Definitivamente, nossa cultura tem subestimado as infinitas possibilidades que toda criança carrega dentro de si. É, pelo contrário, lastimável vê-la perder seu precioso tempo nesse tipo de diversão, e é de fato um grande desperdício. Brincadeiras ao ar livre, onde a liberdade de criação é exercitada e o movimento corporal é bem vindo, lhes toma todo tempo do mundo e sua energia é gasta de maneira muito mais produtiva. Crianças que brincam de verdade e recebem a devida atenção, têm suas necessidades básicas, tais como sono e alimentação, em ordem plena e esse é um dos grandes indícios de que estão no caminho certo.
“Exigir uma competência extremamente precoce em informática tem a ver com um conflito condicionado pelo aspecto psicoevolutivo, pois a introdução ao computador, bem como sua utilização, podem levar à obstrução das capacidades linguísticas. O que é perdido na infância, nesse campo, não pode ser recuperado mais tarde. Em compensação, os conhecimentos de informática podem ser adquiridos em qualquer idade. Assim não existe absolutamente fundamento algum em fazer lidar com o computador precocemente”. Heinz Buddemeier
Também chama atenção como os adultos além de incentivarem os pequenos a se entreterem com eletrônicos, também ficam admirados com a habilidade que todos têm ao manuseá-los. É frequente a frase: "Nossa, é impressionante como ele mexe direitinho no celular!" Mas o que impressiona tanto, afinal? Talvez um macaco mexendo em um ipad habilmente, fosse motivo de real espanto! Mas para um ser humano que é capaz de aprender faculdades complexas como andar, falar e pensar? Definitivamente, nossa cultura tem subestimado as infinitas possibilidades que toda criança carrega dentro de si. É, pelo contrário, lastimável vê-la perder seu precioso tempo nesse tipo de diversão, e é de fato um grande desperdício. Brincadeiras ao ar livre, onde a liberdade de criação é exercitada e o movimento corporal é bem vindo, lhes toma todo tempo do mundo e sua energia é gasta de maneira muito mais produtiva. Crianças que brincam de verdade e recebem a devida atenção, têm suas necessidades básicas, tais como sono e alimentação, em ordem plena e esse é um dos grandes indícios de que estão no caminho certo.
“Exigir uma competência extremamente precoce em informática tem a ver com um conflito condicionado pelo aspecto psicoevolutivo, pois a introdução ao computador, bem como sua utilização, podem levar à obstrução das capacidades linguísticas. O que é perdido na infância, nesse campo, não pode ser recuperado mais tarde. Em compensação, os conhecimentos de informática podem ser adquiridos em qualquer idade. Assim não existe absolutamente fundamento algum em fazer lidar com o computador precocemente”. Heinz Buddemeier
Porém, apesar da
situação parecer estar fugindo do nosso controle. A saída existe. Mas para que
ela seja encontrada, faz-se necessário a conscientização dos educadores. Em uma
sociedade onde as mães (e pais) continuem optando por deixar seus filhos à mercê de
babás ou prossigam os matriculando em escolas que ao invés de olharem para
aquele pequeno ser em construção, enxerguem um mini executivo de terno, gravata, e
fraldas (!), o cenário não é suscetível a mudanças.
Apesar de ser minoria, existem escolas realmente preocupadas com o desenvolvimento sadio das crianças e capazes de preservar o lúdico em suas vidas ao invés de abarrotá-las de informações desnecessárias para sua faixa etária. Porém, convém ainda assim precaver-se. Como a oferta aumenta conforme a procura, é perigoso comprar gato por lebre e investir em escolas "construtivistas só de fachada". Falam bonito mas fazem tão feio quanto as demais. É importante avaliar principalmente a filosofia em que estão embasadas e assegurar-se de que a teoria é de fato colocada em prática.
Um exemplo seguro são as Escolas Waldorf, as quais orientam-se a partir da Ciência Antroposófica, fundada por Rudolf Steiner, e aplicam uma pedagogia voltada ao desenvolvimento integral da criança e do jovem. Caracterizam-se pelo incentivo à criatividade, nutrindo a imaginação e conduzindo os alunos a um pensar livre e autônomo.
Mais informações
A educação começa em casa, mas uma boa escola pode fechar esse ciclo com chave de ouro! Delegar a educação de um filho e anos
mais tarde exigir dele algum tipo de comportamento é definitivamente incoerente.
Restará aos professores ou aos psicólogos, imersos nesta mesma sociedade imediatista,
remediar, futuramente, uma situação que foi criada pela ausência de atitude dos
principais responsáveis. E ainda que assim seja, tudo o que é remediado perde
sua essência natural. A natureza oferece gratuitamente uma ordem insubstituível,
mas o ser humano não a valoriza, e se esquece de que cada um colhe exatamente
aquilo que plantou.
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