O tempo passa, as crianças
crescem, tornam-se adolescentes e finalmente adultos. Aprendem em uma
velocidade absurda, pois depois do amor, o que eles mais buscam é aprendizado. Infelizmente,
por nem sempre encontrarem esse amor, acabam sabendo muito, e consequentemente “sendo”
e sentindo pouco. Sabem tudo dos últimos lançamentos tecnológicos, são
informados a cerca de diversos assuntos que se passam ao redor do mundo:
política, manchetes de todos os jornais, vida do vizinho, mas sequer percebem quão
desinformados são sobre suas próprias vidas, sobre seu próprio ser, sobre seus
sentimentos. Essa alienação é frequentemente, originada no início de tudo, lá
na barriga da mãe... É decorrente de um período gestacional carente de vínculo
entre gestante e bebê, e acaba consolidando-se com um nascimento
proveniente de tal relação.
Sabe-se que o estado emocional da
mãe interfere intensamente nos hormônios compartilhados com o bebê. Além da
proteção e do cuidado, uma mãe é o maior modelo que um filho tem. Independente
dos futuros vínculos e identificações, a convivência simbiótica entre gestante
e bebê é determinante e será responsável por todas as relações vindouras. Não
adianta fugir. A culpa, ou a responsabilidade, se o termo soar menos ofensivo, é
da mãe e ponto final.
Minutos antes do parto, o corpo
do bebê libera hormônios supra-renais que o deixam em estado de alerta, a fim
de o mobilizar para o desafio que logo enfrentará. Esses mesmos hormônios
caminham pelo cordão umbilical, colocando também o corpo da mãe em alerta. E
finalmente eles provocam um pico de crescimento cerebral, proporcionando novos
campos neurais para a aprendizagem mútua que esperam mãe e bebê. É um processo
único que interfere em duas vidas, são dois lutando por uma única causa. Por
esse e outros motivos, o final do parto exige a vinculação de ambos, mãe e
filho, imediatamente após a saída do bebê do útero. Quando duas pessoas estão
torcendo por um mesmo objetivo, o que ocorre quando atingem a vitória? Elas se
abraçam calorosamente o tempo que for necessário. Da mesma forma, uma mãe que
acabou de dar à luz e um filho que acabou de nascer, tem extrema necessidade
desse vitorioso contato. Principalmente por já estarem vivendo juntos há nove
meses.
A simples posição de aninhar o recém-nascido sobre
o seio esquerdo é capaz de desencadear uma série de funções que ajudam a cessar
a produção dos hormônios de stress necessários para o parto, e deixam o bebê
tranquilo para adaptar-se ao novo ambiente. Segundo Chilton Pearce, se esses
estímulos não forem fornecidos, os sentidos do bebê permanecem adormecidos e os
sentidos já estabelecidos não se confirmam em seu novo contexto. O nascimento
propriamente dito fica incompleto e, por isso, a produção dos hormônios
supra-renais continua. A proximidade da batida do coração da mãe é a principal
prioridade na criação do vínculo e no cessamento da produção dos hormônios de
stress. Desta forma, não ocorre nenhuma grande “ansiedade da separação” ou
“abandono psicológico”, fatores que tanto perturbam o desenvolvimento.
Ao ouvir o coração da mãe, o
coração do bebê recebe este estímulo, ativando um diálogo entre mente e
coração. Desta forma, o bebê sente-se acolhido e certifica-se que o parto
terminou bem. Além do coração materno enviar informações para seu bebê, o
inverso também ocorre. Esse diálogo também ativa inteligências correspondentes
na mãe, despertando intuições latentes e ancestrais referentes à proteção e à
alimentação. Sendo assim, esse singelo
contato é capaz de fazê-la dar-se conta de tudo o que precisa fazer, já que
possibilita uma comunicação intuitiva entre mãe e filho. A mãe se depara com
conhecimentos que não podem ser ensinados e nem aprendidos. Uma sabedoria
espontânea surge quando a mãe se permite entrar em ressonância com esse novo
ser, o qual carrega, a nível intuitivo, o manual de instruções que maternidades
e instituições vendem através de cursos que não servem para nada, além de
provocar ainda mais ansiedade e insegurança nas gestantes. Tais cursos tentam
teorizar um conteúdo que será vivenciado somente durante o parto. Eles antecipam
racionalmente uma sabedoria que a natureza se encarrega de entregar de mãos
beijadas para toda mãe que recebe seu filho com amor.
Esse amor, quando genuíno, é tão
abundante que acaba deixando pouca energia para outras funções. Uma mãe fica
tão absorvida no cuidado de seu filho, que é natural o distanciamento das
demais atividades. A licença maternidade é uma prova razoável dessa
necessidade; razoável pois o tempo de afastamento é mínimo se comparado ao
realmente necessário. É inclusive saudável haver um espaçamento entre o
nascimento de outros filhos, a fim de que os três primeiros anos de vida de
cada um sejam favorecidos, já que são fundamentais para o amadurecimento
emocional e biológico não só do filho, como também da própria mãe. É comum,
porém lamentável, ouvirmos dizer que após o primeiro filho, os outros são mais “fáceis”.
Isso só mostra a mísera importância que é dada à vinculação entre mãe e filho.
O segundo, terceiro ou quarto filho precisam exatamente do mesmo cuidado e
dedicação do que o primeiro. Uma mãe não é a mesma mãe para diferentes filhos.
A cada filho que nasce, nasce também uma nova mãe. A experiência que o primeiro
filho trouxe pode ser útil, mas jamais suficiente para lidar com o próximo. O
erro está em acreditar que já se sabe... Pois é justamente o fato de não saber,
que proporciona a dedicação necessária.
Mais uma demonstração de que o contato mãe e filho é crítico e decisivo, é o fato do próprio cordão
umbilical ter sido naturalmente projetado com um comprimento que varia entre 45
e 50 centímetros; assim o recém-nascido pode ser colocado no seio esquerdo da
mãe, sendo inclusive amamentado, enquanto ainda permanece conectado à placenta
que continua funcionando neste período de adaptação do bebê ao novo ambiente.
Trinta por cento de seu sangue permanece na placenta, fornecendo o oxigênio necessário
e dando tempo suficiente para que o líquido amniótico escorra de suas narinas e
traquéia, permitindo enfim que o recém-nascido descubra calmamente seu novo
meio respiratório. Chilton Pearce é categórico quanto aos infelizes
procedimentos que têm sido exaustivamente utilizados nas maternidades de hoje
em dia:
Nossos “médicos”, porém, vêm cortando rotineiramente o cordão umbilical
assim que o bebê está fora do útero, colocando-o imediatamente em situação de
privação de oxigênio, um dos maiores temores de todos os mamíferos. Com
dificuldade, o recém-nascido tenta respirar antes que as vias nasais estejam
desobstruídas e acaba engasgando com o muco e o líquido amniótico; prontamente
o puxam pelos calcanhares e dão-lhe uma palmada nas costas para que possa
expelir um suposto tampão de muco e respirar pela primeira vez... O desastre
realmente mais importante da História é a separação entre mãe e bebê no parto.
Essa experiência de abandono é o fato mais devastador que pode haver na vida,
deixando-os lesados emocional e psicologicamente.
A amamentação é outro requisito
básico e que continua deficiente em grande parte dos casos. Pesquisas mostram
que bebês amamentados com leite materno são mais inteligentes do que os alimentados
com mamadeira. Como este dado é alarmante e 97% da população norte-americana é
alimentada com mamadeira, é claro que surgem diversas oposições. As
controvérsias partem de mães alegando que não amamentaram, mas seus filhos são sim inteligentes. É importante lembrar
que o excesso de racionalismo é muitas vezes visto como "inteligência", porém comumente é uma válvula de escape para aqueles
indivíduos que apresentam desenvolvimento emocional e afetivo fragilizado.
Devido ao sentimento de abandono e desvalorização, os mesmos tendem a buscar
uma compensação em outras esferas a fim de não entrarem em contato com sua
carência afetiva. Ser inteligente não é somente passar em primeiro lugar no
vestibular. Gardner fala das diversas inteligências que cada ser humano pode
apresentar; sendo uma delas a inteligência emocional. O inteligente emocional é
extremamente criativo, possui imensa habilidade em lidar com situações
desconhecidas, além de ser mais humano e solidário. É capaz de expandir-se
profissionalmente em diversas áreas, tendo inclusive maiores chances de se sentir
pleno e realizado. E para ser assim, basta ter sido
amado.
Chilton Pearce assinala que bebês
colocados em outras posições que não a do seio para tomar mamadeiras
ou mantidos muito tempo em berços ou carrinhos, correm o risco biológico de ter
um desenvolvimento físico e emocional atrofiado. Enquanto na situação inversa,
ou seja, havendo contato e amamentação materna, independente do que aconteça
depois com a criança, a segurança que recebeu através desse vínculo, lhe
permitirá enfrentar os problemas e ela se tornará alguém que se sente à vontade
num mundo de constante movimento e mudança. Serão indivíduos integrais, que
sabem lidar com adversidades e que por terem sido preenchidos com carinho,
cuidado, proteção e dedicação, não precisam buscar compensações externas.
Buscam sim serem cada vez melhores, para que possam preencher o outro com suas
riquezas internas e não para serem preenchidos por riquezas triviais. Como já dizia a sábia Clarice Lispector: “Não procure
alguém que te complete. Complete a si mesmo, e procure alguém que te
transborde.”